Sociedade
Importações de alimentos indevidamente rotulados da China representam um risco para a saúde pública no Chile
Alimentos chineses exportados para a América do Sul sem o rótulo adequado estão sendo investigados pelas autoridades sanitárias devido a preocupações com potenciais riscos à saúde.
![Funcionários da Secretaria Regional Ministerial de Saúde (Seremi) de Santiago inspecionam alimentos importados da China em um supermercado da capital chilena. Alguns produtos não possuem rótulos ou trazem informações nutricionais apenas em chinês, o que torna difícil, para os consumidores, saber o que estão comprando. [Secretaria Ministerial Regional da Saúde]](/gc4/images/2023/09/06/43784-chile-aliments-600_384.webp)
Por Entorno |
SANTIAGO – As autoridades de saúde chilenas lançaram, no início de setembro, uma campanha de inspecção em vários supermercados de propriedade chinesa que vendiam alimentos importados sem as devidas licenças ou rótulos.
A crescente popularidade da comida chinesa no Chile levou a um maior escrutínio dos supermercados de propriedade chinesa na capital. Esses estabelecimentos oferecem uma grande variedade de alimentos acessíveis que são novidade para muitos chilenos.
Consumidores curiosos e aqueles que querem economizar nas refeições diárias estão impulsionando a procura por uma variedade de alimentos chineses no Chile, como carne de tartaruga, macarrão instantâneo, sopas, algas marinhas e molhos.
“Precisamos estar cientes de que alguns desses produtos são muito baratos e acessíveis”, disse Cecilia Sepúlveda, presidente do Colégio de Nutricionistas Universitários do Chile, em entrevista à Mega Television. “Você não tem ideia do que há nos alimentos que estão substituindo produtos saudáveis com rotulagem adequada porque a informação está em mandarim”, afirmou.
![Vendedora coloca rótulo com a informação, em caracteres chineses, “não contém melamina” em embalagens de leite em um supermercado em Chengdu, província de Sichuan, China. Em 2008, a Organização Mundial da Saúde alertou que pelo menos quatro crianças haviam morrido durante o escândalo do leite tóxico na China. Outras 53.000 haviam adoecido. [Liu Jin/AFP]](/gc4/images/2023/09/06/43801-supermarkets-600_384.webp)
Outro foco das autoridades é o elevado consumo de doces e refrigerantes por menores de idade. Esses produtos geralmente têm muito açúcar e calorias e podem contribuir para a obesidade e outros problemas de saúde.
“Vemos uma bebida colorida, mas quando lemos o rótulo não sabemos o que contém. Não sabemos se contém sacarose, se é adoçado com adoçante artificial, se tem calorias ou não e se é permitido no Chile", disse Sepúlveda.
Rótulos em chinês
A Secretaria Ministerial Regional de Saúde (Seremi) de Santiago inspecionou mais de 300 lojas em 2023, após reclamações sobre a venda de alimentos sem os rótulos exigidos pelas leis sanitárias chilenas.
Seremi destacou que não saber o nome do produto, seu peso ou volume, tabela nutricional, ingredientes, origem ou mesmo prazo de validade representa um risco à saúde dos chilenos.
Nesse sentido, os comerciantes que vendem alimentos sem a rotulagem correspondente no Chile podem arcar com multas de até US$ 70 milhões, de acordo com a Lei Chilena de Rotulagem e Publicidade de Alimentos.
Gonzalo Soto, secretário ministerial regional de saúde em Santiago, destacou que a responsabilidade por garantir que os produtos alimentícios importados da China sejam adequadamente rotulados “cabe aos importadores e comerciantes desses produtos”.
As autoridades sanitárias, afirmou, não tolerarão a comercialização no mercado de produtos que possam representar um risco para a saúde pública.
Em março, Danisa Astudillo, membro da Comissão de Saúde no Congresso Nacional, apresentou ao Ministério da Saúde um pedido para inspecionar produtos alimentícios de origem chinesa vendidos no Chile. Astudillo manifestou preocupação com a falta de informação nutricional sobre os produtos e os potenciais riscos que representam para a saúde dos consumidores.
Riscos potenciais para a saúde
Para o representante do Partido Socialista do Chile (PS) para a região de Tarapacá, a venda de alimentos sem rotulagem no país é um assunto de interesse público devido ao “impacto potencial que pode ter na saúde da população”.
“Sabemos que as pessoas têm interesse em comer e consumir produtos de origem asiática”, disse Astudillo. “Mas é importante que esses produtos tenham uma rotulagem clara que indique a quantidade de coisas que contêm, como gordura, sódio e outros nutrientes. Isso é importante para as pessoas tomarem decisões informadas sobre o que comem.”
Em 2023, as autoridades chilenas iniciaram 260 investigações judiciais em vários estabelecimentos importadores de alimentos, principalmente supermercados de propriedade chinesa.
Além das investigações legais, as autoridades sanitárias chilenas realizam uma campanha de conscientização dos consumidores. A ação busca sensibilizar sobre a importância de ter cuidado na compra de alimentos que não apresentam informações nutricionais detalhadas.
O desafio dos produtos alimentícios provenientes da China que não são rotulados em espanhol não é novidade. Porém, tornou-se um assunto de grande relevância devido à importação crescente de alimentos da China para a América do Sul.