Economia

Cerejas chilenas enfrentam amargo Ano Novo Lunar Chinês: baixa demanda e queda de preços

Crise coloca em evidência os perigos de uma forte dependência do mercado chinês e expõe a necessidade urgente de diversificar os destinos das exportações chilenas.

Recentes flutuações de preços e desafios no mercado chinês de cerejas sinalizam um futuro difícil para os produtores chilenos, destacando a necessidade urgente de diversificar os mercados de exportação. [ProChile]
Recentes flutuações de preços e desafios no mercado chinês de cerejas sinalizam um futuro difícil para os produtores chilenos, destacando a necessidade urgente de diversificar os mercados de exportação. [ProChile]

Por Alicia Gutiérrez |

SANTIAGO – A indústria de frutas chilena continua em alerta máximo, uma vez que a exportação de cerejas para a China, que inicialmente estava preparada para atingir níveis de lucro recorde, enfrentou uma queda inesperada no mercado do país asiático.

Todo ano, exportadores chilenos, desde grandes produtores a pequenos agricultores, enfrentam condições climáticas difíceis, secas severas e escassez de água para satisfazer a elevada procura por cerejas na China, onde os consumidores apreciam a fruta como um símbolo de felicidade e prosperidade durante o Ano Novo Lunar.

Mas, durante as celebrações deste ano, em 29 de janeiro — tipicamente a alta temporada de consumo de cerejas —, uma queda acentuada nos preços e na demanda começou a afetar os produtores chilenos.

Mudança amarga

Em 9 de dezembro, a imprensa do Chile e da China celebraram a chegada dos primeiros contêineres de cerejas sul-americanas, marcada por júbilo e centenas de compradores ansiosos que se aglomeraram no mercado local de Guangzhou para comprar as primeiras caixas da valiosa fruta.

À época, a emissora chilena Channel 13 informou que uma caixa de 5 kg de cerejas poderia custar até US$ 141. No entanto, pouco mais de um mês depois, os produtores chilenos relataram uma queda drástica nos preços, com reduções de até 50%.

Durante o lançamento da temporada 2024-25, no início de outubro, o Comitê da Cereja da Associação dos Exportadores do Chile (ASOEX) anunciou com orgulho um aumento recorde de 59% nos volumes de vendas para a China.

O embaixador chinês no Chile, Niu Qingbao, destacou os benefícios mútuos do comércio no evento.

“O comércio de cerejas entre a China e o Chile não só trouxe prosperidade aos agricultores chilenos como também alegria aos consumidores chineses. As cerejas são muito apreciadas como presentes durante o Ano Novo Chinês. Aguardo com expectativa a próxima época das cerejas, que trará uma colheita ainda melhor e maiores benefícios para ambos os países”, declarou ele.

A exportação recorde de mais de 657.000 toneladas de cerejas chilenas em 2024 beneficiou sobretudo a China, mas não trouxe a prosperidade esperada para o setor agrícola do Chile.

Em vez disso, destacou os riscos de depender fortemente de um único mercado e destacou a necessidade urgente de diversificar os destinos das exportações.

As cerejas lideraram as exportações agrícolas do Chile em 2024, gerando US$ 3,09 bilhões, de acordo com a ProChile, uma agência que promove as exportações de bens e serviços.

A China comprou 93% das exportações de cerejas do Chile.

Diversificação

Hernán Garcés, presidente da Garcés Fruit, um dos maiores exportadores de cerejas do Chile, lançou o alerta para a crise em carta aos produtores publicada em 15 de janeiro no jornal La Tercera.

Poucas semanas antes do Ano Novo Lunar Chinês (29 de janeiro), o setor estava “enfrentando preços historicamente baixos, apesar de mais de 50% da fruta ainda não ter sido vendida”, alertou ele.

O principal desafio para o segmento de frutas é “abrir novas portas e posicionar as cerejas chilenas como um produto de alta qualidade nos mercados emergentes”, enfatizou Ignacio Fernández, diretor geral do ProChile, em entrevista à Meteored em 16 de janeiro.

“A diversificação é crucial para evitar que um excesso de oferta em um único mercado desestabilize toda a cadeia de valor”, acrescentou Fernández.

As perspectivas para o ramo da cereja continuam desanimadoras. Em 15 de janeiro, Antonio Walker, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), disse à Radio Duna que o setor não espera uma recuperação dos preços até o fim da temporada.

Walker atribuiu a queda dos preços a um declínio nos gastos dos consumidores chineses, causado pelos atuais desafios econômicos no país.

“A indústria da cereja é vital para o Chile, empregando mais de 350.000 pessoas e cultivando mais de 70.000 hectares”, salientou ele.

Perspectivas desanimadoras

Walker chamou atenção para a gravidade da crise,destacando que as cerejas são um produto com impacto econômico significativo para o país.

“Não esperávamos que as cerejas já vendidas à China tivessem um preço 50% inferior ao que conseguimos no ano anterior. Este é um problema grave”, lamentou.

A forte dependência no mercado chinês está no centro da crise, explicou Victor Catán, presidente da Federação dos Produtores de Frutas do Chile (Fedefruta), em entrevista à Emol.

“Os sinais de alerta são claros há muito tempo. Quando se depende de um único mercado como a China e esse mercado sofre uma quebra, há poucas alternativas para redirecionar a fruta”, disse ele em 15 de janeiro, após uma reunião de emergência com líderes do setor para discutir as perspectivas preocupantes para as cerejas chilenas.

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