Segurança

Líder mercenário russo é supostamente morto em acidente de avião no aniversário de dois meses da rebelião

Dúvidas surgiram sobre acidente e se Yevgeny Prigozhin, do Grupo Wagner, estaria a bordo.

Uma foto não confirmada postada nos canais do Telegram do Grupo Wagner mostra os destroços do jato executivo Embraer Legacy 600 com número de registro RA-02795, que pertencia a Yevgeny Prigozhin, em chamas no distrito de Bologovsky, na província de Tver. [Grey Zone/Telegram]
Uma foto não confirmada postada nos canais do Telegram do Grupo Wagner mostra os destroços do jato executivo Embraer Legacy 600 com número de registro RA-02795, que pertencia a Yevgeny Prigozhin, em chamas no distrito de Bologovsky, na província de Tver. [Grey Zone/Telegram]

Por Entorno and AFP |

KUZHENKINO, Rússia -- Autoridades russas estão investigando o acidente de avião ocorrido na quarta-feira (23/08) que matou todos os setes passageiros e três tripulantes.

A bordo do avião, segundo autoridades, estavam o chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, e o cofundador das forças mercenárias Dmitry "Wagner" Utkin.

O avião seguia de Moscou para São Petersburgo.

Observadores estrangeiros, acostumados às operações enganosas e de desinformação do Kremlin, esperavam mais confirmações sobre as identidades dos passageiros mortos e a causa do acidente.

Em 24 de junho, Yevgeny Prigozhin ocupou a sede militar do sul russo em Rostov-on-Don. [Concord]
Em 24 de junho, Yevgeny Prigozhin ocupou a sede militar do sul russo em Rostov-on-Don. [Concord]

Apoio do Wagner na América Latina

O Grupo Wagner é conhecido por pilhagem de recursos naturais, assassinato de civis e apoio a ditadores na África e no Oriente Médio, além de participação brutal na invasão russa na Ucrânia.

Além disso, ele vinha buscando expandir sua presença para incluir a América Latina nos últimos anos.

Em fevereiro, o Grupo Wagner "estava planejando o envio discreto de emissários para o Haiti para se reunirem com o governo sobre um contrato privado para ajudar no combates às gangues", informou o Miami Herald em abril, citando documentos de inteligência dos EUA vazados.

"Uma autoridade de alto escalão do governo haitiano disse ao Herald que não houve nenhuma discussão entre quaisquer representantes do Wagner e o primeiro-ministro Ariel Henry", acrescentou o Herald.

Em janeiro de 2019, os mercenários do Wagner viajaram para a Venezuela para proteger o presidente Nicolas Maduro durante um período de protestos da oposição, relatou a Reuters na época.

Aniversário fatídico

O acidente ocorreu exatamente dois meses após o Grupo Wagner tentar derrubar a liderança militar russa, expondo as divergências políticas no país.

A rebelião de curta duração de Prigozhin foi vista como o maior desafio à autoridade do presidente russo, Vladimir Putin, desde que ele assumiu o poder.

O motim terminou com um acordo sob o qual Prigozhin deveria se mudar com alguns de seus homens para a vizinha Belarus (Bielorrússia), onde começariam a treinar as forças especiais da ex-república soviética.

Mas o destino de Prigozhin continuou incerto: ele parecia desfrutar de uma certa liberdade e, em julho, participou de uma reunião no Kremlin na qual se recusou a ceder o comando do Wagner.

Ainda assim, ele permanecia longe do olhar público.

O general Sergei Surovikin, da Força Aeroespacial russa, também desapareceu após o motim fracassado de junho.

Na quarta-feira, uma fonte disse à RIA Novosti que Surovikin havia sido "afastado do cargo".

Surovikin -- apelidado de "General Armageddon" por conta de seus métodos impiedosos -- era um comandante-em-chefe da invasão russa à Ucrânia e há muito tempo era visto como um aliado do Wagner no Ministério da Defesa.

Raiva e tristeza na Rússia

Na quarta-feira, os canais do Telegram ligados ao Wagner postaram imagens -- que jornalistas independentes não puderam verificar independentemente -- mostrando os destroços do avião queimando em um campo.

Algumas fotos pareciam mostrar danos causados ​​por um míssil terra-ar em partes do avião caído.

Em São Petersburgo, enlutados colocaram flores e adesivos contendo o logo de caveira do Wagner no memorial improvisado do lado de fora do quartel-general da força mercenária.

Os seguidores do Wagner postaram mensagens de condolências, culpando as forças aéreas russas por derrubarem o avião e jurando vingança contra Putin e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu.

"O assassinato de Prigozhin terá consequências catastróficas", escreveu no Telegram Roman Saponkov, um jornalista milita russo. "As pessoas que deram a ordem não entendem o clima no Exército e o nível de moral [no Exército]."

Nenhuma surpresa em Washington

Washington reagiu rapidamente às informações iniciais sobre o acidente.

"De fato, eu não sei o que aconteceu, mas não estou surpreso", disse o presidente Joe Biden na quarta-feira.

"Não há nada na Rússia de que Putin não esteja por trás", disse.

A porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca, Adrienne Watson, também disse na quarta-feira que ninguém deveria se surpreender com a morte repentina de Prigozhin, se confirmada.

"A guerra desastrosa na Ucrânia levou à marcha de um exército privado em Moscou e, agora -- aparentemente --, a isso", disse ela.

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