Economia

Candidato presidencial boliviano promete cancelar acordos de lítio com Rússia e China

Candidato à presidência, Jorge Quiroga planeja cancelar acordos de lítio de bilhões de dólares com os dois países, prometendo mudança radical nas alianças globais da Bolívia, se for eleito.

O ex-presidente boliviano e candidato à presidência da coalizão 'Alianza Libre' (Aliança Livre), Jorge "Tuto" Quiroga Ramirez, acena após votar em uma seção eleitoral na escola Santa Rosa durante a eleição presidencial em La Paz, em 17 de agosto. [Aizar Raldes/AFP]
O ex-presidente boliviano e candidato à presidência da coalizão 'Alianza Libre' (Aliança Livre), Jorge "Tuto" Quiroga Ramirez, acena após votar em uma seção eleitoral na escola Santa Rosa durante a eleição presidencial em La Paz, em 17 de agosto. [Aizar Raldes/AFP]

Por AFP |

O candidato de direita à presidência da Bolívia Jorge Quiroga prometeu, em 25 de agosto, cancelar acordos de extração de lítio de bilhões de dólares firmados pelo atual governo boliviano com a Rússia e a China, se for eleito líder.

"Os contratos (do presidente Luis) Arce não têm o nosso reconhecimento (...). Vamos pará-los, não serão aprovados", disse Quiroga, que estudou nos EUA e promete uma grande mudança nas alianças da Bolívia se for eleito presidente em outubro, em entrevista à AFP.

Quiroga ficou em segundo lugar no primeiro turno das eleições presidenciais realizadas na Bolívia em 17 de agosto, com 26,7% dos votos, atrás do senador de centro-direita Rodrigo Paz, que obteve 32%.

O Movimento ao Socialismo (MAS), no poder desde 2006, sofreu uma derrota histórica. Fundado pelo icônico ex-presidente Evo Morales, o partido foi punido pelos eleitores devido a uma profunda crise econômica.

Quiroga e Paz enfrentam agora o duelo do segundo turno pela presidência em 19 de outubro.

O destino dos depósitos de lítio da Bolívia — que estão entre as maiores reservas no mundo do metal, usado ​​em baterias de smartphones e veículos elétricos — é um tema importante na campanha.

O chamado Triângulo do Lítio, que abrange partes da Bolívia, do Chile e da Argentina, abriga 60% das reservas mundiais de lítio, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA.

Mas, no caso da Bolívia, quase todo o mineral ainda está armazenado no subsolo, a uma altitude de 3.600 metros (12.000 pés) no vasto Salar de Uyuni, uma das principais atrações turísticas do país.

Em 2023 e 2024, o governo de Arce assinou acordos com a russa Uranium One e a chinesa CBC, subsidiária da fabricante de baterias CATL, para extração de lítio dessa reserva.

Com um valor combinado de US$ 2 bilhões, os acordos buscavam ajudar a Bolívia a recuperar o atraso na corrida pela exploração do mineral.

Mas foram bloqueados no Congresso em razão de divisões internas no partido governista.

Enquanto isso, grupos indígenas foram à justiça para cancelá-los devido a questões ambientais.

Quiroga afirmou que a Uranium One e a CATL foram selecionadas "às escondidas" das autoridades locais e disse que iria propor uma nova lei sobre depósitos minerais que impedisse o "favoritismo".

Do gás ao lítio

A Bolívia desfrutou de mais de uma década de forte crescimento sob a liderança de Morales (2006-2019), que estatizou o setor de gás e investiu os lucros em programas de combate à pobreza.

Mas o subinvestimento na exploração implodiu as receitas do gás, corroendo as reservas de moeda estrangeira do governo e causando uma escassez aguda de combustível importado, de dólares – muito usados no país – e de outros produtos básicos.

A inflação interanual subiu para 24,8% em julho, seu patamar mais elevado desde pelo menos 2008, levando os eleitores a abandonar em massa a esquerda.

Quiroga, que ocupou brevemente o cargo de presidente no início dos anos 2000, promete uma revisão radical do modelo econômico boliviano de grande estado se for eleito, o que inclui cortes drásticos nas despesas.

Seu adversário, Paz, que fez campanha como moderado, descartou em 25 de agosto medidas rigorosas de austeridade para resgatar o país da crise.

"Haverá um processo de estabilização, não estamos chamando isso de ajuste”, disse o senador de 57 anos à AFP.

Ele, no entanto, revelou que cortaria US$ 1,2 bilhão em subsídios anuais aos combustíveis — um grande dreno para os cofres públicos — e economizaria mais US$ 1,3 bilhão em "gastos supérfluos" não especificados.

Paz acrescentou que criaria incentivos fiscais para estimular os bolivianos a depositar no sistema bancário os dólares escondidos sob o colchão, mas não buscaria inicialmente ajuda financeira internacional, como propôs Quiroga.

"Primeiro vamos colocar a casa em ordem", disse Paz, cujo pai, Jaime Paz Zamora, governou a Bolívia de 1989 a 1993.

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