Economia
Dois anos após mudança diplomática, relações China-Honduras produzem poucos resultados
Honduras almeja pacto comercial com China, mas, dois anos após romper laços com Taiwan, benefícios prometidos permanecem distantes e riscos econômicos começam a aparecer.
![Mulher passa por muro pichado com a frase “Honduras com Taiwan” em Tegucigalpa. [Orlando Sierra/AFP]](/gc4/images/2025/07/18/51205-honduras2-600_384.webp)
Por Entorno |
Dois anos após Honduras romper relações diplomáticas com Taiwan em favor de Pequim, autoridades dizem que um acordo de livre comércio (ALC) com a China está quase completo. Na prática, porém, os ganhos econômicos prometidos permanecem ilusórios, enquanto as principais indústrias enfrentam dificuldades e os desequilíbrios comerciais se aprofundam.
De acordo com reportagem divulgada em junho pela revista Hibueras, um porta-voz da embaixada chinesa em Tegucigalpa disse que o ALC está "praticamente pronto” e precisa “apenas de um empurrão final”.
Desde o início das discussões, em julho de 2023, ambas as partes completaram seis rodadas de negociações e chegaram a consensos sobre comércio, serviços, investimento e cooperação.
Ainda assim, muitos em Honduras questionam se a mudança valeu a pena.
![Trabalhador mostra camarões que seriam exportados para Taiwan em Choluteca, Honduras, em 4 de abril de 2023. [Orlando Sierra/AFP]](/gc4/images/2025/07/18/51206-honduras3-600_384.webp)
"A China prometeu muito, mas até agora vimos pouco mais do que uma cooperação simbólica”, apontou Javier Amador, diretor da Associação Nacional de Produtores de Aquicultura de Honduras (Andah), em reportagem publicada pelo Expediente Público em 26 de março.
Mercados perdidos e pouca ajuda
Desde a mudança, a indústria de camarão, até então uma grande exportadora para Taiwan, foi duramente atingida. Cerca de 65 empresas produtoras, incluindo duas unidades de processamento, foram fechadas, devido principalmente à perda de acesso ao mercado taiwanês.
Mesmo após a assinatura de um Acordo de Colheita Antecipada entre Honduras e China em 2024, possibilitando as exportações de camarão e melão ao país asiático sem tarifas, os produtores hondurenhos dizem que o resultado financeiro das vendas na China não correspondem aos lucros em Taiwan.
“Mesmo com uma tarifa de 20%”, Taiwan é um destino mais lucrativo do que a China para os produtores hondurenhos, afirmou Amador.
Enquanto isso, a ajuda e o investimento de Pequim não se materializaram em grande parte dos casos. A China prometeu US$ 96,8 milhões para a construção de casas para vítimas de furacões e US$ 285 milhões para a reconstrução de 12 mil escolas. Porém, a maior parte desses recursos ainda não havia sido entregue até a metade do ano passado.
Embora o governo hondurenho tenha relatado avanços, alegando a reconstrução de 5 mil escolas, o crédito é atribuído ao Fundo de Investimento Social de Honduras, e não à ajuda chinesa.
Desequilíbrio crescente
O déficit comercial com a China continua crescendo. Em 2024, Honduras exportou apenas US$ 35,8 milhões para o país asiático, mas importou mais de US$ 2,5 bilhões em produtos. Para cada dólar que exporta, Honduras importa quase US$ 70.
"Esta assimetria nos deixa em uma posição de desvantagem", explicou o analista político Lester Ramírez ao Expediente Público.
O país continua dependente da exportação de matérias-primas, enquanto a China envia produtos de alta tecnologia.
Mesmo assim, as negociações do ALC estão avançando. Das 23 etapas previstas, 22 já foram concluídas e as discussões atualmente em andamento são focadas em acesso a mercado e regras de origem.
"Esta é a parte mais delicada", salienta Helui Castillo, gerente de política comercial do Conselho Nacional da Empresa Privada (Cohep), de acordo com o Expediente Público. "É melhor ter uma negociação lenta do que uma negociação ruim."
Muitos líderes empresariais avaliam que a aliança tem motivações ideológicas.
“Esta decisão parece mais política do que estratégica”, ressalta Eduardo Facussé, ex-presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Cortés. “Se a China não nos abrir o seu mercado, não deveríamos manter o nosso aberto.”
Facussé e outros executivos pedem tarifas sobre produtos chineses até que a reciprocidade seja garantida.
Honduras deve estudar cuidadosamente a China antes de finalizar o acordo, adverte o jornalista Marcos Gonzáles, um dos fundadores do Reporte Asia.
“A China é imparável. Se você não estiver pronto, eles vão dominar o seu mercado”, alerta. "Tudo depende de quanta soberania você está disposto a ceder”.
Apesar da retórica de “ganha-ganha” de Pequim, dois anos após o início da parceria China-Honduras, os benefícios continuam sendo fortemente unilaterais.