Economia

Indústria do camarão de Honduras enfrenta ruína econômica após rompimento com Taiwan

Decisão de mudar de parceiro diplomático foi “precipitada” e novos laços com Pequim causaram “mais danos do que benefícios” à indústria do camarão de Honduras.

Empregado mostra camarão que foi exportado para Taiwan em Choluteca, Honduras, em 4 de abril de 2023. [Orlando Sierra/AFP]
Empregado mostra camarão que foi exportado para Taiwan em Choluteca, Honduras, em 4 de abril de 2023. [Orlando Sierra/AFP]

Por Francisco Hernández |

TEGUCIGALPA -- A indústria hondurenha do camarão está atravessando a pior crise de sua história após o rompimento das relações diplomáticas do país com Taiwan.

As exportações diminuíram cerca de US$ 43 milhões em 2024, em grande parte devido à redução das compras do principal mercado de Honduras, Taiwan.

Depois que o país cortou relações com Taipei, em março de 2023, começou a vender camarão para a China, que paga significativamente menos pelo produto, disse Javier Amador, diretor executivo da Associação Nacional de Aquicultores de Honduras (Andah), à agência de notícias EFE em agosto.

Graves consequências

“Perdemos um mercado fundamental, nosso principal destino de exportações, que gerava um volume substancial de moeda estrangeira. O impacto foi muito grande, especialmente porque agora estamos sujeitos a uma tarifa de 20% para exportar camarão para Taiwan”, lamentou ele.

Funcionários trabalham durante processo de congelamento de camarão para exportação em Choluteca, Honduras. [Orlando Sierra/AFP].
Funcionários trabalham durante processo de congelamento de camarão para exportação em Choluteca, Honduras. [Orlando Sierra/AFP].

Depois de Honduras mudar o reconhecimento diplomático para Pequim, o país anunciou que revogaria seu tratado de livre comércio com Taiwan.

Em março de 2023, Taipei retirou seu embaixador de Tegucigalpa depois de saber que o Ministro das Relações Exteriores de Honduras, Eduardo Enrique Reina, tinha visitado a China para normalizar as relações entre os dois países.

Depois que Honduras cortou relações com Taiwan, suas exportações de camarão foram duramente atingidas por uma tarifa taiwanesa de 20%, explicou Amador à EFE.

Além disso, os baixos preços de compra praticados pela China aumentaram a incerteza entre os exportadores.

Amador criticou a decisão de mudar de parceiro diplomático como “puramente precipitada”, alegando que os laços com Pequim trouxeram “mais danos do que benefícios” ao setor do camarão hondurenho.

Revés com México

Para agravar os problemas de Honduras, o México suspendeu suas importações de camarão durante quase quatro meses este ano.

Em 23 de janeiro, o governo mexicano proibiu temporariamente a entrada de camarão de Honduras, Guatemala, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica. A agência aduaneira do país alegou preocupações com o contrabando de crustáceos do Equador.

No início de maio, um tribunal mexicano autorizou a retomada das importações de camarão de viveiro da América Central.

Mas, até então, várias fábricas hondurenhas de camarão tinham fechado e 6.000 trabalhadores perderam seus empregos permanentemente, informou a EFE.

“As exportações hondurenhas já proporcionaram estabilidade, criação consistente de empregos e paz social na região, mas tudo isso foi perdido quase da noite para o dia”, relatou Amador à EFE.

De acordo com a agência, a indústria do camarão proporciona cerca de 20.000 empregos diretos e gera US$ 300 milhões por ano.

Mas as projeções indicam que neste ano a indústria do camarão perderá pelo menos US$ 100 milhões de receita.

“Muitas empresas do setor fecharam e outras enfrentam incertezas sobre se devem continuar produzindo ou arriscar mais perdas”, acrescentou Amador.

Desde 1941, Honduras e Taiwan mantiveram uma parceria envolvendo cooperação militar, educacional e econômica. O país asiático financiou projetos de ajuda técnica e agrícola e acolheu um grande número de estudantes hondurenhos em suas universidades.

A mudança de Tegucigalpa para Pequim abalou essa relação.

Gostou desta matéria?


Captcha *