Diplomacia

Panamá toma medidas para acabar com controle de empresa chinesa sobre principais portos do canal

Proposta foi bem recebida, pois críticos dizem que benefícios econômicos da concessão foram mínimos e equivalem a um “enclave colonial”.

Foto de arquivo do presidente da China, Xi Jinping (segundo à esquerda), e do então presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, acenando, acompanhados pelas primeiras-damas Peng Liyuan (à esquerda) e Lorena Castillo (à direita), em frente ao navio porta-contêineres chinês Cosco Shipping Rose nas eclusas de Cocolí, no Canal do Panamá, em dezembro de 2018. [Luis Acosta/AFP]
Foto de arquivo do presidente da China, Xi Jinping (segundo à esquerda), e do então presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, acenando, acompanhados pelas primeiras-damas Peng Liyuan (à esquerda) e Lorena Castillo (à direita), em frente ao navio porta-contêineres chinês Cosco Shipping Rose nas eclusas de Cocolí, no Canal do Panamá, em dezembro de 2018. [Luis Acosta/AFP]

Por Laura Beatriz Pacheco |

CIDADE DO PANAMÁ – O Ministério Público do Panamá recomendou a anulação da concessão outorgada a uma empresa chinesa para operação de portos em ambos os acessos do Canal do Panamá, citando seu caráter “inconstitucional”.

A proposta obteve a aprovação de vários setores, segundo os quais os benefícios econômicos da concessão -- descrita como um "enclave colonial" -- foram mínimos e serviram apenas para perpetuar as desigualdades econômicas.

O contrato obtido pela CK Hutchison Holdings, pertencente ao bilionário de Hong Kong Li Ka-shing, gerou preocupações generalizadas em relação à crescente influência da China sobre o Canal do Panamá, segundo a AFP.

Desde 1997, a Panama Ports Company (PPC), subsidiária da CK Hutchison, administra dois dos cinco portos do canal com base em uma concessão outorgada pelo governo panamenho.

Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio (à esquerda), cumprimenta o administrador da Autoridade do Canal do Panamá, Ricaurte Vásquez Morales, durante visita às eclusas de Miraflores no Canal do Panamá, em 2 de fevereiro. [Mark Schiefelbein/Pool/AFP]
Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio (à esquerda), cumprimenta o administrador da Autoridade do Canal do Panamá, Ricaurte Vásquez Morales, durante visita às eclusas de Miraflores no Canal do Panamá, em 2 de fevereiro. [Mark Schiefelbein/Pool/AFP]

Benefícios mínimos

A Suprema Corte do Panamá aceitou, em 19 de fevereiro, analisar o pedido apresentado por um advogado para anulação do contrato, a segunda contestação desse tipo que chegou ao tribunal.

Em 26 de fevereiro, o procurador-geral Luis Carlos Gómez apresentou uma petição em apoio aos processos e pedindo ao tribunal que considerasse o contrato “inconstitucional” por concordar em "transferir indevidamente direitos exclusivos do Estado panamenho”, informou a AFP.

A PPC administra os portos de Cristóbal, no lado do Atlântico do canal, e Balboa, no lado do Pacífico.

O acordo foi renovado em 2021 por 25 anos.

O controlador-geral do Panamá, Anel Flores, e a Autoridade Marítima do Panamá iniciaram no final de janeiro uma auditoria na PPC, com foco nas concessões em que o Estado panamenho detém participações.

Apesar do crescimento do tráfego de contêineres, os benefícios econômicos da concessão para o Panamá foram mínimos, salientou Flores em 26 de fevereiro. Ele descreveu o acordo como um “enclave colonial” que exacerba as desigualdades econômicas, informou o jornal La Estrella.

Os demandantes do caso argumentam que a empresa se beneficiou de incentivos fiscais indevidos e outras vantagens.

"Violam flagrantemente a Constituição"

Os denunciantes argumentam que a empresa goza de “um amplo espectro de direitos” sobre a gestão portuária, incluindo a possibilidade de expansão sem custos adicionais e com prioridade sobre terceiros.

Afirmam ainda que a PPC tem acesso exclusivo e preferencial a áreas estratégicas, impedindo que outros operadores possam competir em condições de igualdade.

Essa situação prejudica o mercado portuário, limitando a participação de novos investidores que poderiam oferecer melhores condições ao Estado e à sociedade, acrescenta Gómez.

A concessão de 1997, renovada em 2021, garante à empresa chinesa poderes que “violam flagrantemente a Constituição”, enfatizou o advogado processual e ex-procurador panamenho Giovani Olmos.

Ele explicou ao jornal La Estrella que isso cria um desequilíbrio contratual, em que os interesses privados se sobrepõem aos nacionais, colocando o Estado em desvantagem.

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