Ambiente

Plantador de árvores 'louco' dá à selva de concreto de São Paulo um oásis verde

Espaços verdes são essenciais para reduzir as temperaturas em áreas urbanas e melhorar a qualidade do ar, afirmam ecologistas.

Hélio da Silva, o visionário do Parque Linear de Tiquatira – Engenheiro Werner Eugênio Zulauf, aprecia o oásis verde em São Paulo. Nas últimas duas décadas, ele plantou mais de 40.000 árvores no parque. [Nelson Almeida/AFP]
Hélio da Silva, o visionário do Parque Linear de Tiquatira – Engenheiro Werner Eugênio Zulauf, aprecia o oásis verde em São Paulo. Nas últimas duas décadas, ele plantou mais de 40.000 árvores no parque. [Nelson Almeida/AFP]

Por Entorno e AFP |

SÃO PAULO – Em pouco mais de duas décadas, o brasileiro Hélio da Silva plantou sozinho cerca de 40.000 árvores na selva urbana que é São Paulo.

Ex-executivo da indústria alimentícia, ele diz que foi chamado de “louco” quando iniciou sua saga para transformar o que costumava ser um ponto de encontro de usuários de drogas entre duas avenidas movimentadas.

Hoje, o local é ocupado pelo Parque Linear de Tiquatira, com milhares de árvores de 160 espécies espalhadas por uma faixa de 3,2 km de extensão e 100 metros de largura.

Silva, 73 anos, disse à AFP ter feito isso porque queria "deixar um legado" para a cidade que o acolheu."Comecei e nunca mais parei”, afirmou.

Vista aérea do Parque Linear de Tiquatira, em São Paulo. [Nelson Almeida/AFP]
Vista aérea do Parque Linear de Tiquatira, em São Paulo. [Nelson Almeida/AFP]
Visitante aprecia o Parque Linear Tiquatira, em São Paulo. [Nelson Almeida/AFP]
Visitante aprecia o Parque Linear Tiquatira, em São Paulo. [Nelson Almeida/AFP]

Silva nasceu em Promissão, a cerca de 500 km de São Paulo, a maior cidade da América Latina, para onde se mudou há décadas.

Sem sequer pedir autorização formal, usando as próprias economias, Silva começou em 2003 a coletar e comprar mudas para plantar em sua cidade adotiva.

Cinco anos depois, a prefeitura de São Paulo nomeou formalmente seu projeto como o primeiro parque linear da cidade.

Segundo o município, já foram identificadas 45 espécies de aves no parque.

"Olha como ele transformou aquela área degradada. É um espetáculo!", diz Angela Maria Fiorindo Pereira, professora aposentada de 69 anos que costuma passear no parque.

Espaços verdes como esses são fundamentais para reduzir a temperatura em centros urbanos de concreto e melhorar a qualidade do ar, dizem ecologistas.

São Paulo, cidade com 12 milhões de habitantes, é altamente poluída e sua qualidade do ar vem se degradando devido aos incêndios florestais que devastam oBrasil..

Mais de 566 hectares da Amazônia brasileiraforam queimados entre janeiro e agosto deste ano, o que o torna o pior ano emincêndios na região desde 2005, segundo dados do MapBiomas Fire Monitor.

Abraçador de árvores

Silva conta que teve a ideia enquanto caminhava com a esposa, Leda, pelo que então era uma área decadente da metrópole em 2003.

Ele estima ter gasto cerca de R$ 40.000 por ano no projeto, mas não revela seu investimento total.

Aposentado desde 2022, ele passa os dias examinando suas árvores, verificando se precisam de poda ou adubo.

Ele tem orgulho do seu trabalho e gosta de caminhar entre as árvores, parando ocasionalmente para abraçar um tronco ou apontar uma família de árvores do bisavô ao bisneto.

Silva costuma carregar dois álbuns de fotos que retratam a transformação do terreno e é recebido com carinho por onde passa.

Ele diz que leva cerca de 10 minutos para plantar mudas e gosta de conversar “baixinho” com elas, para que não o chamem de louco "mais uma vez".

Silva conta com a ajuda esporádica de voluntários, mas seu vigor no trabalho não foi afetado pela idade.

A meta é plantar 50.000 árvores, diz o homem cujo cartão de visita diz: “Hélio da Silva, plantador de árvores”.

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