Ambiente
Projeto de reflorestamento da Amazônia no Brasil visa reativar mercados de carbono
Empresa brasileira busca reconstruir confiança no conturbado mercado de carbono plantando espécies nativas que prosperam na Amazônia.
![Trabalhador da Mombak planta árvores em uma antiga fazenda de gado na região amazônica perto de Mãe do Rio, Brasil. [Pablo Porciúncula/AFP]](/gc4/images/2025/01/14/48758-brazil1-600_384.webp)
Por AFP |
MÃE DO RIO, Brasil -- Na Amazônia brasileira, trabalhadores usam tubos metálicos para semear mudas em ritmo acelerado, como parte de um esforço para reflorestar a floresta com milhões de árvores.
O projeto tem apoio financeiro dos Estados Unidos e envolve contratos lucrativos com empresas como Google, Microsoft e a equipe McLaren de F1, que querem usar a área reflorestada para compensar milhões de toneladas de emissões de carbono.
Ao plantar espécies nativas que irão prosperar na Amazônia, a empresa brasileira Mombak espera restaurar a credibilidade de um mercado de carbono repleto de escândalos em um momento crucial para o aquecimento do planeta.
"A gente identificou uma grande oportunidade no mercado, que é a meta global de reduzir as emissões nos próximos anos", diz o cofundador da Mombak, Gabriel Silva, na fazenda Turmalina, no Pará.
![Vista aérea de uma antiga fazenda de gado sendo reflorestada pela Mombak na região amazônica perto de Mãe do Rio, Brasil. [Pablo Porciúncula/AFP]](/gc4/images/2025/01/14/48760-brazil3-600_384.webp)
![Vista aérea mostra trabalhadores da Mombak plantando árvores para reflorestar uma antiga fazenda de gado na região amazônica perto de Mãe do Rio, Brasil. [Pablo Porciúncula/AFP]](/gc4/images/2025/01/14/48759-brazil2-600_384.webp)
"A Amazônia é o melhor lugar para você fazer reflorestamento do mundo", acrescenta ele, citando a perda de 60 milhões de hectares desde 2015.
Créditos de carbono contaminados
O mercado de carbono é baseado na venda de créditos para empresas compensarem suas emissões de gases de efeito estufa através do financiamento do reflorestamento ou da proteção de sumidouros de carbono existentes que absorvem CO2.
A ideia por trás dos créditos de carbono, no entanto, sofreu um grande golpe recentemente, pois pesquisas científicas mostraram repetidamente que as alegações de redução de emissões são enormemente superestimadas — ou até mesmo totalmente falsas.
O mercado também foi criticado como uma ferramenta de "greenwashing" (lavagem verde), ao permitir que empresas aleguem neutralidade de carbono enquanto fazem pouco para reduzir suas emissões.
Um dos motivos pelos quais os projetos de reflorestamento se mostraram ineficazes é que muitos se concentram em monoculturas, como o eucalipto, que fragilizam os ecossistemas ao longo do tempo.
Desde sua fundação em 2021, a Mombak comprou nove fazendas de proprietários de terras no estado do Pará para replantar árvores.
A primeira delas, a Turmalina — uma antiga fazenda de gado — cobre 3.000 hectares. Ela está situada ao leste de Belém, capital do Pará, que sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (UNFCCC COP 30) em novembro.
'Simular a natureza'
Em apenas 18 meses, 3 milhões de mudas de 120 espécies indígenas diferentes foram plantadas.
“O que a gente quer nada mais é do que simular a natureza” para construir uma floresta "resiliente”, explica o biólogo Severino Ribeiro.
As primeiras árvores a serem plantadas são aquelas que crescem melhor sob o sol escaldante da Amazônia. Depois será a vez das espécies mais frágeis, que prosperam na sombra.
Algumas das árvores recém-plantadas já têm alguns metros de altura.
Entre estas, estão 300.000 exemplares de seis espécies ameaçadas de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza, como o ipê-amarelo, árvore emblemática do Brasil.
A Mombak pretende plantar pelo menos 30 milhões de árvores até 2032, em uma área cinco vezes maior do que a ilha de Manhattan, em Nova York.
O projeto é financiado por investidores privados e organizações como o Banco Mundial.
Em novembro, os Estados Unidos anunciaram um empréstimo de US$ 37,5 milhões à Mombak, durante uma visita do presidente americano, Joe Biden, à Amazônia.
Os contratos com empresas incluem um número fixo de toneladas de emissões a serem compensadas durante um período específico.
O contrato da Microsoft visa compensar 1,5 milhão de toneladas de CO2 — um dos maiores do gênero no mundo, de acordo com a Mombak.
Os valores dos contratos são mantidos em segredo, mas a Mombak diz que eles precisam ser "altos", já que esses projetos precisam de "capital intensivo" para serem viáveis.
O projeto da Mombak ainda precisa ser validado pela Verra, organização norte-americana que é uma das principais certificadoras privadas de créditos de carbono.
No ano passado, a Verra reforçou seus métodos após enfrentar críticas de que os projetos que havia validado na verdade economizavam pouco ou nenhum carbono em comparação com suas promessas.