Economia
Cubanos dependem de água com açúcar devido à escassez de alimentos
Cuba enfrenta pior crise econômica dos últimos 30 anos, marcada por uma inflação galopante. Mas a escassez generalizada de alimentos é o que mais afeta os cubanos.
![Mulher come o pão de cada dia em frente a uma padaria em Havana. [Adalberto Roque / AFP]](/gc4/images/2024/09/24/47695-cuba3-600_384.webp)
Por AFP |
HAVANA, Cuba -- Os alimentos subsidiados, sem os quais a maioria dos cubanos não se alimentaria, estão se tornando cada vez mais escassos e caros, já que o governo, lutando contra as sanções, tem dificuldade para pagar as importações.
Os pães são menores -- nem sequer do tamanho da mão de um adulto --, o arroz é raro e não se encontra óleo nem café.
“Alguns vão para a cama sem comer nada, apenas água com açúcar, se tiverem”, disse Rosalia Terrero, de 57 anos, que trabalha em uma das “bodegas” de Havana, onde se pode comprar comida subsidiada.
As prateleiras da loja estão quase vazias.
![Homem mostra ração diária de pão para sua família em Havana. Cubanos estão recebendo pães menores, menos arroz e nenhum óleo e café este mês, deixando evidentes as dificuldades acumuladas no fornecimento de alimentos subsidiados, em mais um sinal do aprofundamento da crise na ilha. [Adalberto Roque / AFP]](/gc4/images/2024/09/24/47692-cuba1-600_384.webp)
![Cubanos fazem fila em padaria de Havana. [Adalberto Roque / AFP]](/gc4/images/2024/09/24/47694-cuba2-600_384.webp)
A família de Terrero, composta por sete pessoas, sobrevive em grande parte com um pedaço de pão subsidiado por dia -- cujo peso o governo reduziu de 80 para 60 gramas, o que, segundo ela, não é suficiente “para encher o estômago”.
Outros alimentos básicos incluem arroz e feijão.
A maioria das pessoas não tem dinheiro para comprar em lojas privadas -- autorizadas no país comunista há apenas três anos -- ou em lojas estatais não subsidiadas que só aceitam moedas estrangeiras.
Cuba enfrenta a pior crise econômica dos últimos 30 anos, com uma inflação altíssima e salário médio mensal de apenas US$ 42.
Mas a falta de alimentos “é o que mais atinge os cubanos”, declarou Terrero à AFP.
“Quando falta arroz, massa ou macarrão na mesa, não se nota tanto, mas quando não há nada, é muito difícil. Os cubanos sofrem desde o momento em que acordam até a hora de dormir.”
Com as reservas externas reduzidas, Cuba tem cada vez mais dificuldades para pagar a alimentação de sua população de cerca de 11 milhões de pessoas.
A ilha comunista necessita mensalmente de cerca de 3.300 toneladas de trigo para a produção de pão, mas em julho e agosto conseguiu adquirir um terço desse volume e em setembro apenas 600 toneladas, segundo dados oficiais.
Na semana passada, um navio carregado de trigo ficou atracado no porto sem poder descarregar, com o governo alegando não ter o “financiamento” para pagar a carga.
O mesmo aconteceu com recentes carregamentos de arroz e sal.
A ministra do Comércio Nacional, Betsy Diaz, avisou a população que em setembro, tal como em agosto, “não haverá óleo nem café”.
Nem sequer ar
Linorka Montenegro, uma dona de casa de 55 anos, se lamenta na fila de uma "bodega" em Havana Velha.
“Minha geladeira está vazia, não há nada, nem sequer ar”, desabafou à AFP a mãe de quatro filhos e avó de cinco netos.
Ela conseguiu obter dois quilos de arroz e um de açúcar, mas reclama que isso é apenas uma parte da ração mensal subsidiada a que tem direito.
Na pior crise econômica de Cuba desde a década de 1990, os moradores também enfrentam a escassez de medicamentos e combustível e constantes cortes de energia.
O governo atribui a situação às sanções impostas pelos EUA desde 1962.
Desde 2000, os produtos alimentícios estão excluídos do embargo dos EUA ao comércio com Havana. Mas Cuba tem de pagar em dinheiro e antecipadamente -- condições onerosas para um país com poucas divisas e sem acesso a empréstimos de bancos por conta das sanções.
Havana tem também uma elevada dívida externa e escassez de moeda estrangeira, o que complica igualmente a compra de alimentos de outros países.
A recessão econômica de Cuba foi agravada pela pandemia de Covid-19, que atingiu duramente a indústria do turismo, vital para o país.
Outra causa foi inteiramente autoinfligida: uma reforma monetária em 2021 que eliminou o “peso convertível” CUC, indexado ao dólar -- medida que impulsionou a inflação e provocou a queda acentuada do valor do peso cubano ou CUP.