Sociedade

Resolvendo a escassez de alimentos em Cuba por meio da piscicultura em tanques de água filtrada por peixes

País comunista passa por sua pior crise econômica em três décadas, com falta de alimentos, medicamentos e combustível.

Homem alimenta alevinos de tilápia vermelha em um tanque de água no projeto de piscicultura JoJo Aquaponics, em Havana, em outubro. [Yamil Lage/AFP]
Homem alimenta alevinos de tilápia vermelha em um tanque de água no projeto de piscicultura JoJo Aquaponics, em Havana, em outubro. [Yamil Lage/AFP]

AFP |

HAVANA – Nos últimos dois anos, os empreendedores cubanos José Martinez e Joel Lopez utilizaram uma técnica inovadora para produzir 24 toneladas de tilápia – uma fonte essencial de alimento em um país insular cercado de água, mas sem peixes suficientes.

Ambos advogados de 35 anos, eles recorrem a um método simbiótico chamado aquaponia, no qual os excrementos dos peixes em cativeiro alimentam as plantas cultivadas não no solo, mas em reservatórios de água filtrada através de suas raízes para ser reutilizada nos tanques.

Há dois anos, Martinez e Lopez iniciaram seu negócio em Barbosa, um bairro da capital Havana, com um empréstimo governamental e algumas economias particulares.

Eles construíram 12 tanques de 20 metros cúbicos cada.

Trabalhadores mensuram o equilíbrio de pH em um tanque de água no projeto de piscicultura JoJo Aquaponics, em Havana, em outubro. [Yamil Lage/AFP]
Trabalhadores mensuram o equilíbrio de pH em um tanque de água no projeto de piscicultura JoJo Aquaponics, em Havana, em outubro. [Yamil Lage/AFP]

Nesses reservatórios, as tilápias atingem em seis meses o tamanho necessário para consumo humano, de 400 gramas.

“Vendemos [os peixes] aqui na comunidade porque somos um projeto de desenvolvimento local, mas parte da produção será vendida ao setor do turismo para que possamos ganhar o dinheiro de que precisamos para continuar (com o projeto)", diz Martinez, sócio do empreendimento JoJo Aquaponico.

Quando terminarem a construção de suas três estufas, os sócios também esperam produzir 36 toneladas de vegetais.

"Viável e sustentável"

O país comunista passa por sua pior crise econômica em três décadas, com escassez de alimentos, medicamentos e combustível.

“Nossa ideia é levar esse conhecimento (...) a todos que quiserem (...) produzir peixes”, afirma Lopez. “É uma solução viável e sustentável.”

Antes da crise econômica da década de 1990, provocada pela desintegração da União Soviética, um importante aliado, Cuba contava com uma frota que garantia a captura de cerca de 100 mil toneladas de peixes por ano em águas internacionais -- a maior parte vendida dentro do país a preços subsidiados.

Sua costa é rasa e pobre em nutrientes, de acordo com especialistas, e a sobrepesca diminuiu ainda mais a disponibilidade de peixes ao redor da ilha.

Outro obstáculo é a crescente escassez de motores e combustível para os barcos de pesca, disse recentemente o ministro da Indústria Alimentícia, Manuel Sobrino, na televisão local.

Nos últimos três anos, Cuba capturou menos de 12 mil toneladas de peixes por ano.

No ano passado, o país exportou produtos do mar pelo valor de cerca de US$ 54 milhões, pois necessita desesperadamente captar divisas.

Produza seu próprio peixe

A piscicultura também sofreu impacto.

Os números oficiais mostram que, entre 2018 e 2022, a produção de bagre (peixe-gato) – outra espécie de água doce criada em cativeiro – caiu de 6.286 para 1.355 toneladas.

Entre 2019 e 2023, a produção agropecuária em geral caiu 35% em Cuba.

Em julho, o vice-primeiro-ministro Jorge Luis Tapia propôs aos cubanos que começassem a cultivar peixes em casa – uma prática que se generalizou nos tempos desesperadores dos anos 1990. A sugestão foi recebida com ceticismo.

Para resolver a escassez de alimentos, o governo aprovou em 2019 uma lei que permite aos pescadores venderem suas capturas diretamente, sem intervenção estatal.

Pequenas empresas compram cada vez mais peixes de pescadores individuais, mas, com a margem de lucro aplicada aos preços, os cidadãos cubanos comuns também não têm acesso a esse mercado,

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