Ambiente
Ativistas e Marinha da Colômbia lutam para salvar tubarões
As ricas águas do Pacífico atraem embarcações de toda a região, bem como frotas distantes da China, onde a barbatana de tubarão é considerada uma iguaria.
![Nesta vista aérea, o catamarã Silky da Biodiversity Conservation Colombia navega nas águas perto do Santuário de Fauna e Flora de Malpelo, Patrimônio Mundial da UNESCO no Pacífico colombiano. [Luis Acosta/AFP]](/gc4/images/2024/10/17/47876-colombia2-600_384.webp)
Por AFP |
Um catamarã solitário chamado Silkypatrulha as águas traiçoeiras que rodeiam a ilha de Malpelo, um santuário colombiano remoto repleto de vida marinha em perigo de extinção.
Apesar do seu estado de proteção, este paraíso do Pacífico enfrenta ameaças constantes.
Um grupo de ambientalistas é o terror dos barcos que pescam ilegalmente tubarões dentro da reserva, a cerca de 500 km da costa continental da Colômbia, um dos países mais ricos em termos de fauna marinha.
Sem armas nem apoio, os ativistas afugentam as embarcações intrusas, ameaçam denunciá-las às autoridades e até mergulham para soltar os tubarões que ficam presos em redes ou linhas.
![Unidade de Reação Rápida da Guarda Costeira da Marinha colombiana (à esquerda) escolta barco com bandeira equatoriana nas águas do Pacífico em 8 de setembro. A embarcação foi flagrada transportando cinco tubarões-martelo, tubarões-seda e tubarões-galha-preta; 13 peixes-vela e quatro marlins; 11 atuns; e seis dourados. Três pescadores foram detidos por operarem sem autorização em território estrangeiro. [Luis Acosta/AFP]](/gc4/images/2024/10/17/47875-colombia1-600_384.webp)
![Barbatanas de tubarão secam no telhado de uma fábrica em Hong Kong, em janeiro de 2013. A produção de sopa de barbatanas contribui para o rápido declínio das populações de tubarões, alertam os ambientalistas. [Antony Dickson/AFP]](/gc4/images/2024/10/17/47878-colombia3-600_384.webp)
Em atividade 24 horas por dia desde 2018, a equipe de amantes de tubarões afirma que a maré está mudando no Santuário de Fauna e Flora de Malpelo, uma meca para mergulhadores e a maior zona livre de pesca no Pacífico tropical oriental.
Contendo a ameaça
"O sucesso do projeto pode ser visto no fato de que eles [os pescadores ilegais] não voltam", disse a mergulhadora colombiana Érika López, que criou a fundação Biodiversity Conservation Colombia com a ajuda de um filantropo australiano.
O projeto nasceu do que os ativistas veem como uma falta de proteção oficial aos tubarões, com a marinha prendendo pescadores ilegais apenas se os encontrar em patrulhas de rotina contra traficantes de drogas e outros intrusos territoriais.
Anfitriã da conferência das Nações Unidas (ONU) sobre biodiversidade COP16, que terá início em 21 de outubro, a vasta costa colombiana do Pacífico se situa numa rota migratória fundamental para tubarões-martelo, tubarões-baleia e outras espécies, muitas delas ameaçadas de extinção.
Mas as águas abundantes do santuário atraem embarcações de todo o mundo, muitas do vizinho Equador, outras do Panamá e da Costa Rica, no Caribe, ou mesmo da China, onde a barbatana de tubarão é uma iguaria.
A fundação de López afirma que a tripulação do Silky-- nome de um tipo de tubarão -- resgatou 508 animais vivos desde 2018, afugentou 302 embarcações e confiscou mais de 70.000 metros de linha de pesca.
Desde dezembro passado, a fundação informa que não avistou nenhum barco de pesca perto da ilha de Malpelo, na reserva de mais de 850.000 hectares reconhecida como patrimônio da UNESCO.
"Tentamos o máximo possível para confiscar o equipamento e libertar as espécies que estão presas; essa é a principal missão", explicou à AFP Darío Ortiz, de 53 anos, pescador artesanal que se tornou ambientalista, a bordo do Silky.
Mas é um trabalho que exige dedicação integral.
"Este barco tem de estar basicamente 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano, a conter esta ameaça", disse López, 51 anos, que sonha em aumentar o projeto para uma flotilha de navios dedicados à conservação e à ciência no Pacífico.
Rico e desejado
Em alto mar, longe da ilha de Malpelo, um navio de guerra da marinha colombiana patrulha uma área repleta de tubarões-martelo, marlins e outras criaturas ameaçadas de extinção.
Em missão recente, com a AFP a bordo, prendeu três pescadores equatorianos que se encontravam com um carregamento muito valioso de tubarões-seda, tubarões-martelo e tubarões galha-preta, peixes-vela e quatro marlins-azuis, todos ainda vivos.
"O Pacífico colombiano é muito rico e desejado", aponta o Almirante Rafael Aranguren.
Com "nossos navios, podemos chegar a esta parte do território e exercer controle para que não explorem ilegalmente estas riquezas, para que não prejudiquem o meio ambiente".
Em 2020, o governo do então presidente Iván Duque proibiu a pesca do tubarão, tanto industrial como em pequena escala, para tentar proteger as populações marinhas.
Mas,diante dos protestos das comunidades pesqueiras afro-caribenhas da costa do Pacífico que comem e vendem carne de tubarão, o presidente Gustavo Petro revogou parcialmente a proibição em janeiro.
O governo decretou que os pescadores artesanais podem manter e consumir tubarões capturados acidentalmente em redes destinadas a outras espécies de peixes sem restrições.
A decisão causou indignação entre os conservacionistas que a consideram uma licença para matar.
A marinha estima ter detido 30 suspeitos até agora este ano, relacionados com acusações de pesca ilegal em águas colombianas.
Entre 2012 e 2022, as autoridades apreenderam mais de 334 toneladas de carne de peixe obtida ilegalmente, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.
O país não mantém um registo dos tubarões que são vítimas de pesca ilegal.