Economia

Região andina é impactada por irregularidades em obras de estatais chinesas

Relatório que analisou 147 projetos de empresas chinesas na região andina revelou inúmeras deficiências, como corrupção, custos excessivos e atrasos significativos.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro (D), aperta a mão do presidente chinês, Xi Jinping, em Caracas, em julho de 2014. [Leo Ramírez/AFP]
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro (D), aperta a mão do presidente chinês, Xi Jinping, em Caracas, em julho de 2014. [Leo Ramírez/AFP]

Por Giselle Alzate |

BOGOTÁ — Na região andina, 63% dos projetos empreendidos por estatais chinesas apresentaram irregularidades operacionais.

O dado consta no relatório "Identificação e monitoramento de empresas estatais chinesas na região andina (2000 - 2023)", publicado pelo Centro de Pesquisa Chinês Latino-Americano da Fundação Andrés Bello em julho.

María Micolta, autora do relatório, analisou 147 projetos chineses conduzidos entre 2000 e 2023 na Bolívia, na Colômbia, no Equador, no Peru e na Venezuela com um valor total de US$ 46 bilhões.

Dos 147 projetos analisados, 93 – representando 63% e avaliados em cerca de US$ 41,8 bilhões – apresentavam algum tipo de irregularidade.

Técnicos na mina Mirador, operada pela Ecuacorriente do Equador, subsidiária do consórcio chinês CRCC-Tongguan, em Tundayme, no Equador, durante a fase inicial de operações na maior mina de cobre do país. [Rodrigo Buendía/AFP]
Técnicos na mina Mirador, operada pela Ecuacorriente do Equador, subsidiária do consórcio chinês CRCC-Tongguan, em Tundayme, no Equador, durante a fase inicial de operações na maior mina de cobre do país. [Rodrigo Buendía/AFP]
Nativos bolivianos aimarás participam da inauguração da primeira estação terrestre de controle de satélite da Bolívia em Amachuma, 25 km a sudeste de La Paz. A China lançou o satélite boliviano Túpac Katari em dezembro de 2013. [Aizar Raldes/AFP]
Nativos bolivianos aimarás participam da inauguração da primeira estação terrestre de controle de satélite da Bolívia em Amachuma, 25 km a sudeste de La Paz. A China lançou o satélite boliviano Túpac Katari em dezembro de 2013. [Aizar Raldes/AFP]

Em 35 projetos (24%), não foram detectados problemas na execução e no desenvolvimento. Nos outros 19 projetos (13%), houve indícios de irregularidades, embora estas não tenham sido confirmadas durante o processo de investigação.

A pesquisa destaca as nove principais estatais chinesas em operação na região andina.

Nos setores de mineração e energia, as principais incluem China National Petroleum Corporation (CNPC), China Petroleum & Chemical Corporation (Sinopec), Sinochem Holdings Corporation, China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e Zijin Mining Group.

No setor de infraestrutura, as empresas líderes são China Communication Construction Company (CCCC), China Railway Construction Corporation (CRCC), China Railway Group Limited (CREC) e China National Machinery Industry Corporation Limited (Sinomach).

A análise da Micolta considerou os investimentos realizados por essas empresas estatais chinesas e os tipos de irregularidades detectados, como casos de corrupção, excesso de custos e atrasos nos prazos de entrega.

“A categoria com mais irregularidades é a opacidade da informação, com 44 projetos, com destaque para o Equador com 20 e a Bolívia com 18”, afirma o relatório.

Em segundo lugar, aparecem atrasos e problemas, afetando 32 projetos, principalmente na Bolívia, e obras inacabadas ou paralisadas em 19 projetos, especialmente na Venezuela.

Segundo o relatório, a Sinomach, estatal chinesa especializada em equipamentos geológicos, agrícolas e florestais, tem o maior número de projetos com irregularidades, respondendo por 28% do total.

O relatório identificou 20 projetos com supostos danos ambientais, distribuídos igualmente entre Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.

"Na Venezuela, foram detectados fortes indícios de violações ambientais, mas sem dados verificáveis", diz o relatório.

Grupos e organizações criticaram 21 projetos por danos ambientais, sendo a maioria na Bolívia (11), na Colômbia (5) e no Peru (5).

Problemas trabalhistas foram observados em 18 projetos, principalmente na Bolívia, que teve 14 casos.

Corrupção generalizada

A Fundação Andrés Bello descobriu "“vários casos de corrupção associados a projetos desenvolvidos por holdings estatais chinesas selecionados na região andina”.

O relatório destaca problemas como desvio de fundos, tráfico de influência, obtenção ilegal de lucros, fraude, peculato e suborno.

"Entre as principais conclusões (...), do total de 147 projetos, 14 (9%) deles – que equivalem a um valor aproximado de US$ 3,05 bilhões – apresentaram pelo menos uma das categorias para casos de corrupção”, segundo a pesquisa.

Outros 41 projetos (28%), estimados em cerca de US$ 7,5 bilhões no total, foram categorizados como "sem dados", sendo a maioria na Bolívia, no Peru e na Venezuela.

Nesses países, vários projetos apresentaram um "alto grau de irregularidades", sugerindo possíveis atividades criminosas que não foram judicializadas.

Nos 14 projetos em que foram comprovados casos de corrupção, a categoria com maior número de casos foi o tráfico de influência, identificado em 8 projetos. Em seguida, aparece o suborno em 5 projetos e peculato e desvio de fundos em 2 projetos.

Em termos gerais, o relatório observa que a falta de transparência no financiamento chinês, combinada a instituições fracas em nível local, dificultou controle e o desenvolvimento eficiente de vários projetos.

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