Sociedade
Acidente aéreo no Brasil mata família de migrantes venezuelanos
Mais de 7,7 milhões de pessoas fugiram da crise política e econômica na Venezuela nos últimos anos, segundo a ONU. Uma dessas famílias morreu tragicamente no Brasil na semana passada.
![Vista aérea dos destroços de um avião que caiu com 62 pessoas a bordo em Vinhedo, no Brasil. [Miguel Schincariol/AFP]](/gc4/images/2024/08/12/47330-brazil-600_384.webp)
Por AFP |
VINHEDO, Brasil — Ao embarcar no voo 2283 da Voepass com o filho de 4 anos e a mãe, Josgleidys Gonzalez iniciava uma longa viagem que os levaria para sua Venezuela natal e depois para a Colômbia.
Mas seus sonhos, assim como os de todos a bordo, foram frustrados com a queda do avião no estado de São Paulo na semana passada.
A família, que havia migrado para o Brasil, estava entre os 58 passageiros e quatro tripulantes a bordo da aeronave, que caiu e pegou fogo em 9 de agosto, na cidade de Vinhedo. Todos morreram.
Gonzalez tinha 25 anos e seu bebê, Joslan, tinha apenas alguns meses quando a família chegou, há quatro anos, a Cascavel, cidade de 350.000 habitantes no estado do Paraná.

Lá, ela encontrou trabalho como caixa de supermercado, contou sua amiga brasileira Thaiza Evangelista à AFP.
Os Gonzalez estavam entre os 7,7 milhões de pessoas que fugiram da Venezuela nos últimos anos, enquanto o país enfrentava uma série de crises políticas e econômicas, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas,
Mas a família achou a vida no Brasil cara e decidiu se mudar para a Colômbia após uma curta parada na Venezuela para providenciar documentos.
"Eles tinham a intenção de ir para a Colômbia porque lá tinham parentes e não precisariam pagar por moradia, porque aqui o mais difícil era o aluguel", disse Evangelista, de 52 anos, que ajudou a família com os preparativos finais da viagem.
"Uma última messagem"
Protetora dos animais, Evangelista convenceu a amiga a levar junto sua cachorrinha de estimação de seis meses, Luna — e até arrecadou fundos para pagar o custo extra.
Foi, em parte, uma medida pelo bem do pequeno Joslan, que "chorava sem parar porque não queria deixá-la", segundo ela.
Evangelista os ajudou a montar um plano de viagem complicado: primeiro, eles iriam para São Paulo, depois pegariam outro voo para Boa Vista, no norte; na sequência, seguiriam de van até a cidade fronteiriça de Pacaraima e, finalmente, fariam uma viagem de ônibus de 12 horas até sua cidade natal, Ciudad Bolívar, na Venezuela.
"Ela me mandou uma última mensagem às 11h16, dizendo que tudo havia corrido bem e que iriam embarcar no avião", disse Evangelista.
Mas depois, para sua consternação, ela começou a receber mensagens sobre a queda de um avião com destino a São Paulo.
"Comecei a me desesperar (...), a lista (de vítimas) não apareceu", disse ela por telefone de Cascavel, onde seus amigos e vizinhos se reuniram após receberem a trágica notícia.
Mais tarde, a Voepass confirmou que entre os passageiros do voo 2283 estavam Josgleidys Gonzalez e seu filho; sua mãe, Maria Gladys Parra, e a cachorrinha Luna.
"Uma guerreira"
Segundo a amiga, Josgleidys Gonzalez era "uma guerreira". "Ela era muito querida. É muito difícil manter a doçura, a honestidade, a integridade, tendo passado por tantas coisas difíceis", disse.
A venezuelana Neirelis Orta, de 33 anos, que também emigrou para o Brasil e mora em Cascavel desde fevereiro, trabalhava com Gonzalez no supermercado.
"Ela sempre dizia que não queria gastar porque estava economizando para ir fazer aqueles documentos [para o filho na Venezuela]", disse Orta à AFP.
"Me dá muita tristeza. Privar-se de tantas coisas, de comer, de vestir algo de que você gosta porque tem um plano, uma viagem, e seus sonhos acabarem assim, do nada."
"Estamos arrasados e tudo o que dizemos é que ela não merecia isso", acrescentou.
"É horrível."