Ambiente
Acordo chinês de mineração ameaça santuário de araras-verdes da Nicarágua
Novo acordo de mineração de 4.800 hectares da China na Nicarágua ameaça o último santuário da arara-verde, que está em risco de extinção, gerando temores de colapso ecológico nas frágeis florestas de Río San Juan.
![Grande arara-verde (Ara Ambiguus) em voo. [Antoine Boureau/Hans Lucas via AFP]](/gc4/images/2025/08/29/51748-macaw-600_384.webp)
Por Entorno |
Uma nova concessão para operações de mineração da China na Nicarágua coloca em risco um dos últimos redutos da arara-verde – espécie ameaçada e já à beira da extinção – na América Central.
Ambientalistas alertam que o acordo poderá devastar as frágeis florestas de Río San Juan, destruindo, no processo, uma biodiversidade insubstituível.
O governo conjunto do ditador Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, concedeu a exploração de 4.800 hectares à Nicarágua Xinxin Linze Minería Group, S.A. O contrato foi aprovado com base no Acordo Ministerial nº 045-SBT-M-043-2025, publicado do diário oficial La Gaceta em 26 de agosto.
A área concedida, intitulada Lote Villa Álvarez, está localizada no município de El Almendro, no departamento de Río San Juan, região conhecida por suas imponentes amendoeiras, que são o principal local de nidificação da arara-verde.
Segundo conservacionistas, a exploração industrial na região ameaça destruir um dos poucos habitats que mantêm a espécie viva.
A Nicarágua Xinxin Linze, representada legalmente por Lijun Dong, apresentou o pedido em 23 de maio. Com a nova licença, a empresa passa a controlar 63.133,61 hectares em todo o país num total de sete concessões.
Outras empresas financiadas pela China dominam a indústria extrativista da Nicarágua: a Zhong Fu Development, S.A. controla 181.206,60 hectares; a Thomas Metal, S.A. detém 122.695,04 hectares; a Brother Metal, S.A. soma 130.194,76 hectares; e a Linze Excelente Minería, S.A. administra 10.592,05 hectares.
Somadas, elas exploram mais de 503 mil hectares, grande parte dos quais estão em reservas de biodiversidade.
Os críticos acusam o governo Ortega-Murillo de vender as regiões ecologicamente mais sensíveis da Nicarágua com pouca supervisão. Argumentam que concessões rápidas às empresas chinesas proporcionam ao regime divisas fortes e apoio político de Pequim, mas impõem custos irreversíveis às florestas, aos rios e às comunidades locais.
Crescente influência chinesa
A presença da China na indústria mineradora da Nicarágua cresce significativamente desde 2021, quando o governo de Daniel Ortega cortou relações com Taiwan em favor de laços diplomáticos com Pequim.
Desde então, pelo menos cinco empresas chinesas estariam explorando ativamente ouro no país, de acordo com meios de comunicação social exilados da Nicarágua.
As empresas chinesas tornam-se cada vez mais influentes na Nicarágua, não apenas na mineração, mas em setores-chave, como infraestrutura, transportes, saúde, segurança e comércio.
O aprofundamento da aliança com Pequim destaca a orientação de Ortega em direção à China e ao seu líder, Xi Jinping, em um contexto de crescente isolamento internacional e autoritarismo interno.
Para os conservacionistas, porém, a decisão marca mais um passo no sentido de transformar as reservas naturais da Nicarágua em zonas de sacrifício industriais.