Energia

China: Parceiro estratégico ou aproveitador silencioso do petróleo venezuelano?

Nicolás Maduro se volta novamente para Pequim, mas a ajuda da China tem um preço. Por trás do discurso de “cooperação mutuamente benéfica”, negociadores chineses exigem descontos ainda maiores.

Homem passa por mural que ilustra uma bomba de petróleo em Caracas. [Juan Barreto/AFP]
Homem passa por mural que ilustra uma bomba de petróleo em Caracas. [Juan Barreto/AFP]

Por Maryorin Méndez |

CARACAS – Desde 2017, as sanções dos EUA contra os compradores de petróleo venezuelano levaram o ditador Nicolás Maduro a buscar soluções e rotas alternativas para contornar as sanções e atrair novos clientes dispostos a aceitar o risco de fazer negócios com um país atolado em uma crise endêmica.

A China rapidamente interveio para explorar a fragilidade econômica da Venezuela e sua luta para atrair compradores. Pequim tem garantido consistentemente embarques de petróleo com grandes descontos.

A saída da Chevron da Venezuela, ordenada por Washington antes do prazo final de maio, obrigou Caracas a buscar novos parceiros para descarregar seu petróleo.

Mais uma vez, a China, citando uma falsa “cooperação mutuamente benéfica”, voltou à mesa de discussões, desta vez se oferecendo para renegociar todos os seus contratos. De acordo com reportagem publicada em 1 de maio pelo site Bloomberg Línea, que citou várias fontes familiarizadas com as discussões, a China solicitou descontos ainda maiores em futuras compras de petróleo.

Petroleiro aguardando para carregar no Lago Maracaibo, Venezuela, em maio. Navios fizeram fila poucas semanas antes de a gigante petrolífera norte-americana Chevron interromper as operações no país sob novas sanções dos EUA. [Federico Parra/AFP]
Petroleiro aguardando para carregar no Lago Maracaibo, Venezuela, em maio. Navios fizeram fila poucas semanas antes de a gigante petrolífera norte-americana Chevron interromper as operações no país sob novas sanções dos EUA. [Federico Parra/AFP]

Durante anos, a China comprou hidrocarbonetos venezuelanos a preços baixíssimos, os mais baixos que Maduro, cada vez mais desesperado, conseguiu oferecer.

A crise venezuelana se aprofundou em 2025 e a China continua colhendo os benefícios.

A custosa amizade de Pequim

Durante sua visita à Rússia de 7 a 9 de maio, Maduro tratou de vários assuntos com o presidente russo, Vladimir Putin , e o presidente da China, Xi Jinping. Em seus comentários, Xi descreveu a China e a Venezuela como “bons parceiros de confiança mútua e desenvolvimento comum”.

Maduro chamou a China de “grande amiga da Venezuela” e agradeceu a Pequim por seu “apoio duradouro e desinteressado”.

Mas o apoio da China está longe de ser desinteressado. Sua pressão para renegociar os preços do petróleo é apenas um exemplo.

Segundo uma fonte consultada pelo Entorno, desde a segunda grande onda de sanções dos EUA em meados de 2019, a Venezuela perdeu dezenas de carregamentos de petróleo vendidos a supostos “parceiros de confiança”, que posteriormente alegariam perda das cargas em alto-mar.

Essas transações não deixam rastros. Na falta de canais formais para apresentação de denúncias, o cálculo das verdadeiras perdas, o que a fonte chamou de "o roubo do século", continua impossível.

Com poucas opções, Maduro tem de confiar na palavra de compradores questionáveis, principalmente refinarias chinesas independentes, que dominam o mercado de remessas marítimas de petróleo de países sancionados pelos EUA, como a Venezuela e o Irã.

O desespero encontra a alavancagem

Delcy Rodríguez, ministra da Energia e vice-presidente do regime de Maduro, viajou para a China de 23 a 28 de abril, pedindo ao círculo cada vez menor de aliados de Caracas que aumentasse as compras de petróleo venezuelano.

Rodríguez discutiu o assunto com o vice-presidente chinês, Han Zheng, e com Dai Houliang, presidente da China National Petroleum, no que analistas consideram um movimento preventivo antes da saída — determinada pelos EUA — da Chevron e de outras empresas energéticas estrangeiras até o fim de maio.

De acordo com a ordem de Washington, a Chevron, a Repsol SA, A Eni SpA e a Maurel & Prom devem interromper sua produção e exportação de petróleo da Venezuela.

Sentindo a urgência de Maduro, a China começou a reavaliar seus contratos e a tentar descontos maiores, citando os riscos jurídicos e logísticos associados à compra de petróleo de um estado fortemente sancionado, de acordo com uma fonte familiarizada com as negociações.

Veículos de comunicação, como Bloomberg e Reuters, divulgaram, no fim de abril, que pelo menos quatro “navios fantasmas” — navios-tanque que usam identidades de embarcações desativadas para evitar sua detecção — zarparam recentemente da Venezuela. Os navios teriam partido dos complexos petrolíferos José e Amuay.

As empresas chinesas continuam sendo os principais compradores da Venezuela, com 10 navios-tanque transportando cerca de 461.000 barris por dia para refinarias chinesas, informou a Bloomberg Línea, citando dados aduaneiros e de rastreamento marítimo dos EUA.

Desse volume, entre 5% e 10% vão para o pagamento da enorme dívida da Venezuela com a China.

A Venezuela ainda deve à China cerca de US$ 13 bilhões, após a China ter emprestado ao país latino-americano US$ 62,5 bilhões entre 2007 e 2016.

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