Segurança

Incursão naval venezuelana mobiliza Guiana e aliados

Entrada de patrulha naval venezuelana nas águas da Guiana une governo e oposição contra ameaças à integridade territorial do país.

O navio de patrulha oceânica Guaiquerí, da Marinha Venezuelana, chegando ao estaleiro estatal Diques y Astilleros Nacionales CA (Dianca), em Puerto Cabello, Venezuela, para inspeção em julho de 2023. [Dianca]
O navio de patrulha oceânica Guaiquerí, da Marinha Venezuelana, chegando ao estaleiro estatal Diques y Astilleros Nacionales CA (Dianca), em Puerto Cabello, Venezuela, para inspeção em julho de 2023. [Dianca]

Por Entorno |

GEORGETOWN/CARACAS – A incursão de um navio patrulha da Marinha Venezuelana nas águas territoriais da Guiana, em 1º de março, motivou uma frente unida para defender a integridade territorial do país.

Segundo o presidente da Guiana, Irfaan Ali, um navio de patrulha oceânica venezuelano identificado como Guaiquerí entrou nas águas exclusivas do país por volta das 7h, levando a Guiana a "colocar seus parceiros internacionais em alerta".

Em pronunciamento na televisão, Ali informou que o navio se aproximou de vários ativos nas águas exclusivas da Guiana, incluindo uma unidade flutuante de produção, armazenamento e descarga (FPSO) operada pela gigante energética norte-americana ExxonMobil.

Ali afirmou com firmeza que a Guiana não tolerará ameaças à sua integridade territorial, enfatizando que as fronteiras marítimas do país são reconhecidas internacionalmente.

O presidente da Guiana, Irfaan Ali (à esquerda), e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro (à direita). [Keno George e Federico Parra/AFP]
O presidente da Guiana, Irfaan Ali (à esquerda), e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro (à direita). [Keno George e Federico Parra/AFP]

“Esta incursão é motivo de grave preocupação. Já mobilizamos meios aéreos dentro da nossa zona econômica exclusiva e nas nossas águas exclusivas", disse Ali.

"Não toleraremos ameaças à integridade territorial", reiterou.

Intensificando ameaças

O líder da oposição, Aubrey Norton, fez uma declaração publicada pelo Stabroek News em 2 de março, reafirmando seu apoio ao governo e ao povo da Guiana diante das crescentes ameaças e agressões de Caracas.

“Acreditamos que, antes de mais nada, temos de proteger a nossa integridade territorial e, nesse sentido, o governo tem nosso apoio”, disse Norton ao Stabroek News.

Ele pediu ao governo que responda diplomaticamente e expressou confiança na Força de Defesa da Guiana (GDF) e em sua capacidade de defender a soberania do país.

Em resposta à incursão, a Guiana notificou imediatamente seus aliados internacionais, convocou o embaixador venezuelano para apresentar uma queixa formal e anunciou que o incidente seria relatado à Corte Internacional de Justiça (CIJ) e à Organização das Nações Unidas (ONU).

A incursão venezuelana gerou críticas dos Estados Unidos, do Reino Unido, da França, do Sistema de Segurança Regional (RSS) e da Comunidade do Caribe (CARICOM).

O Departamento de Estado dos EUA, através do Gabinete de Assuntos do Hemisfério Ocidental, condenou veementemente as ações da Venezuela perto das instalações da ExxonMobil, chamando-as de "inaceitáveis ​​e uma clara violação do território marítimo internacionalmente reconhecido da Guiana".

Em comunicado divulgado em 1º de março, os Estados Unidos alertaram sobre possíveis “consequências” se Caracas aumentar as tensões.

“Outras provocações resultarão em consequências para o regime de [Nicolás] Maduro”, segundo o comunicado.

Composta por 15 membros, a CARICOM também divulgou uma resposta firme, pedindo à Venezuela que recue.

“Neste contexto, a CARICOM solicitou à Venezuela que ordene a retirada urgente da embarcação das águas da Guiana e, além disso, evite entrar em contato com as plataformas FPSO”, disse um comunicado publicado em 1º de março.

A CARICOM também reafirmou o seu apoio inequívoco e inabalável à soberania e à integridade territorial da Guiana.

Enquanto isso, estão em andamento negociações entre a Guiana e a Venezuela, com a mediação do Brasil e de São Vicente e Granadinas no âmbito do Acordo de Argyle — pacto assinado em 14 de dezembro de 2023 para promover o diálogo e a paz entre os dois países, especialmente no que diz respeito à disputa do território de Essequibo.

Pelo Acordo de Argyle, a Guiana e a Venezuela se comprometeram a não ameaçar ou usar a força uma contra a outra em nenhuma circunstância, aceitando que todas as disputas devem ser resolvidas com base no direito internacional, incluindo o Acordo de Genebra de 1966.

Aviso a Maduro

Em 2 de março, o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, disse que 28 navios estrangeiros de perfuração e petroleiros operavam na "zona disputada" com a Guiana.

Segundo Padrino López, a Marinha Venezuelana, através de imagens de satélite, confirmou a presença dessas embarcações envolvidas na exploração e comercialização de hidrocarbonetos.

López ainda acusou a Guiana de agir unilateralmente na exploração dos recursos naturais da região.

A Guiana de língua inglesa, há muito tempo um dos países mais pobres da América Latina, registra tensões crescentes com a Venezuela sobre o controle do disputado território de Essequibo, uma região extensa e rica em recursos naturais.

As tensões aumentaram desde 2015, depois que a gigante petrolífera ExxonMobil descobriu enormes depósitos que garantiram à Guiana, um país de apenas 800.000 habitantes e com um pequeno exército, uma das maiores reservas de petróleo bruto do mundo, segundo a AFP.

Em abril de 2024, o governo de Georgetown concedeu um novo contrato à ExxonMobil, alimentando ainda mais as tensões.

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