Sociedade
Búfalo-asiático selvagem reivindica seu lugar em ilha brasileira
Durante a temporada chuvosa, animais podem cruzar facilmente os manguezais lamacentos da ilha, superando os cavalos e até as motos.
![Policiais militares do 8º Batalhão patrulham com os búfalos-d'água asiáticos na cidade de Soure, na Ilha de Marajó, no estado brasileiro do Pará, em 4 de setembro. [Carl De Souza/AFP]](/gc4/images/2023/09/11/43934-buffalo3-600_384.webp)
AFP |
SOURE, Brasil -- Uma paisagem inusitada recebe os visitantes na ilha de Marajó, no norte do Brasil: milhares e milhares de búfalos-d'água, presentes na Índia e no sudeste asiático, encontraram um novo lar na América do Sul.
Alguns dizem que eles chegaram à ilha em um navio naufragado na costa; outros afirmam que prisioneiros fugitivos da Guiana Francesa os usaram para navegar pelos manguezais e chegar ao Brasil.
Enquanto suas origens continuam um mistério, os búfalos-d'água asiáticos adotaram o clima tropical de Marajó, onde vivem em uma feliz simbiose com os humanos na ilha banhada por rios de um lado e pelo Oceano Atlântico de outro.
Seu número chega a cerca de meio milhão hoje -- mais do que a população humana da ilha, de 440.000.
![Homem dirige uma carroça de búfalos na cidade de Soure, na Ilha de Marajó, no estado brasileiro do Pará, em 4 de setembro. Os búfalos-d'água asiáticos se tornaram um símbolo da ilha; obras de arte, culinária, logomarcas de empresas e esculturas, tudo mostra o animal. [Carl De Souza/AFP]](/gc4/images/2023/09/11/43935-buffalo4-600_384.webp)
![A polícia de Soure adotou os búfalos como meio de transporte para cruzar as áreas alagadas durante operações na ilha. Os cascos dos búfalos permitem que eles se movimentem rapidamente por pântanos lamacentos e suportem o intenso calor tropical da ilha. [Carl De Souza/AFP]](/gc4/images/2023/09/11/43936-buffalo5-600_384.webp)
Excelentes nadadores, os búfalos-d'água podem atingir 1.200 kg de peso e 2,5 m de comprimento do nariz ao rabo. São animais de trabalho populares em Marajó, vistos puxando carroças pelas ruas da cidade de Soure e ajudando os fazendeiros nas colheitas.
O animal faz parte da cultura local, aparecendo com seus chifres curvilíneos em logomarcas de produtos,esculturas e murais. As festas locais também incluem corridas de búfalos.
O animal é onipresente nos menus de restaurantes, onde os suculentos e gordurosos bifes de búfalo são servidos com muçarela de búfalo.
"Soldados Búfalos"
Os búfalos também são usados como animais de patrulha pela polícia militar em Soure, com policiais fortemente armados sentados em uma cadeira adaptada sobre as costas do animal.
A sede da Polícia Militar em Soure é adornada com uma placa feita de cartuchos de bala com a figura de um búfalo musculoso segurando uma espingarda.
"O trabalho do policiamento com búfalos surgiu da necessidade de realizarmos o deslocamento do nosso efetivo pelos campos alagados do Marajó. Trinta anos atrás, esse era o único jeito", disse à AFP o comandante do batalhão, Leomar Aviz.
Assim nasceram os chamados "Soldados Búfalos" de Marajó -- uma homenagem ao regimento do Exército dos EUA do século XIX composto em sua maioria por pessoas de origem africana e celebrizado pela estrela do reggae, Bob Marley, um século depois.
O cheiro de um criminoso
Os animais atravessam com facilidade os manguezais lamacentos da ilha nas temporadas chuvosas.
A polícia diz que nessas condições eles podem atingir velocidades que cavalos ou motocicletas não conseguem igualar.
Mas aprender a controlar um búfalo não é uma tarefa fácil e os policiais precisam de vários meses de treinamento.
"Alguns policiais mais veteranos diziam que o búfalo sentia cheiro de criminosos a mais de 1 km, mas isso era só pra fazer trote com os novatos", disse Aviz à AFP.