Ambiente

Multiplicação de escorpiões representa um problema grave para o Brasil

Escorpiões estão se proliferando devido à urbanização e ao aumento das temperaturas, o que os torna os animais venenosos mais mortais do Brasil.

Um escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) é fotografado no biotério de artrópodes do Instituto Butantan, em São Paulo, Brasil. O escorpião amarelo é responsável por um número crescente de mortes no Brasil. [Nelson Almeida/AFP]
Um escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) é fotografado no biotério de artrópodes do Instituto Butantan, em São Paulo, Brasil. O escorpião amarelo é responsável por um número crescente de mortes no Brasil. [Nelson Almeida/AFP]

Por AFP |

SÃO PAULO, Brasil — Esqueça as cobras; são os escorpiões que mais preocupam os brasileiros.

Os aracnídeos — temidos pelo ferrão tóxico que carregam em suas caudas — estão se proliferando graças à urbanização e ao aumento das temperaturas.

O resultado é que o escorpião se tornou o animal venenoso mais letal do Brasil, representando um perigo crescente para os moradores de todo o país — e estimulando a demanda por antídotos.

A espécie mais encontrada no país, o escorpião-amarelo, é a mais perigosa da América do Sul.

O veterinário brasileiro Thiago Mathias Chiariello segura um escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) no biotério de artrópodes do Instituto Butantan, em São Paulo, Brasil. [Nelson Almeida/AFP]
O veterinário brasileiro Thiago Mathias Chiariello segura um escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) no biotério de artrópodes do Instituto Butantan, em São Paulo, Brasil. [Nelson Almeida/AFP]
Frascos de soro antiescorpião produzidos no Instituto Butantan em São Paulo, Brasil. [Nelson Almeida/AFP]
Frascos de soro antiescorpião produzidos no Instituto Butantan em São Paulo, Brasil. [Nelson Almeida/AFP]

Incomum para escorpiões, essa espécie exclusivamente feminina também se reproduz sem machos, o que reduz as opções de controle populacional.

"Com o clima está mais quente, o metabolismo desses animais também está mais quente, então eles estão mais ativos, estão consumindo mais alimentos e se reproduzindo mais", explica Thiago Chiariello, coordenador de produção do laboratório de soro antiescorpiônico do Instituto Butantan, em São Paulo.

Adicione a isso a urbanização desenfreada, que afasta os predadores naturais dos escorpiões, como lagartos e pássaros, e aumenta o número de baratas disponíveis — refeições saborosas para os aracnídeos —, e o problema fica evidente.

"As cidades estão crescendo descontroladamente", e a disseminação do lixo que elas trazem significa mais comida para os escorpiões, segundo Chiariello.

"Isso leva a mais contato com as pessoas, o que significa mais acidentes", afirma.

No ano passado — o último conjunto de dados disponível —, houve 152 mortes por picadas de escorpião no Brasil, em comparação com 140 por picadas de cobra. Isso representou um aumento em relação a 2019, quando foram registradas 95 mortes por picada de escorpião.

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, mais de 200.000 picadas de escorpião ocorreram no ano passado — 250% a mais que uma década antes e uma média de quase 550 picadas por dia.

Após uma picada de escorpião-amarelo brasileiro, adultos saudáveis ​​podem apresentar sintomas leves a moderados, como dor, vômitos, suor abundante e tremores.

Mas há sintomas mais graves — como choque, acúmulo de líquido nos pulmões, colapso cardiovascular e insuficiência cardíaca — que podem ser fatais, especialmente para crianças e idosos.

Antiveneno salva-vidas

Essa situação torna o antídoto do Instituto Butantan crucial.

A equipe de Chiariello realizou sua tarefa de fabricação de soro com extrema precisão.

Os funcionários primeiro usam pinças para guiar o ferrão de um escorpião vivo até um recipiente.

O veneno é então injetado em cavalos, que são menos vulneráveis ​​aos efeitos da toxina do que os humanos e produzem mais anticorpos.

"Há todo um processo de purificação no sangue do cavalo", explica Paulo Goldoni, biólogo do instituto.

"O soro é a única maneira de salvar vidas", disse ele.

No ano passado, mais de 11.000 brasileiros receberam antídoto contra escorpiões, principalmente na região sudeste do país, que é muito populosa, segundo autoridades.

Com a demanda por soro em alta, assim como o número de escorpiões disponíveis, o Instituto Butantan tem um suprimento constante de doadores de veneno.

"Se houvesse uma escassez de soro, com certeza o número de mortes seria muito mais alto", diz o biólogo.

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