Ciência e Tecnologia
Acordo de internet via satélite do Brasil com a China gera preocupações de segurança
Medida pode abrir caminho para censura e controle de opiniões nas redes sociais, refletindo as práticas do Partido Comunista Chinês na China, dizem observadores.
![Chineses aguardam a passagem da comitiva do presidente chinês, Xi Jinping, pela praia de Ipanema durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, no Brasil, em novembro. [Ludovic Marin/AFP]](/gc4/images/2024/11/25/48279-xi2-600_384.webp)
Por Waldaniel Amadis |
SÃO PAULO — Um acordo entre o Brasil e a empresa chinesa de internet via satélite SpaceSail — um dos 37 assinados durante a visita do presidente da China, Xi Jinping, a Brasília — gerou críticas de líderes da oposição brasileira e de segmentos da indústria de tecnologia.
Xi esteve no Brasil para a cúpula do G20 de 17 a 21 de novembro.
A empresa chinesa de satélites de órbita baixa SpaceSail assinou um memorando, em 19 de novembro, com a empresa estatal brasileira de telecomunicações Telebrás, marcando sua entrada no mercado brasileiro, informou o South China Morning Post.
O acordo possibilita que a SpaceSail, concorrente da Starlink de Elon Musk, ofereça comunicações via satélite e internet de banda larga no maior mercado da América Latina.
![O presidente chinês, Xi Jinping, recebe honras militares ao chegar a Brasília em novembro para encontro com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. [Agência Brasil]](/gc4/images/2024/11/25/48278-xi1-600_384.webp)
![O presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, assinam acordos sino-brasileiros após reunião em Brasília em novembro. [Evaristo Sa/AFP]](/gc4/images/2024/11/25/48280-xi3-600_384.webp)
"Os serviços de comunicação via satélite fornecidos pela SpaceSail para o Brasil serão realizados com base na Thousand Sails Constellation, uma constelação gigante de satélites de órbita baixa que adota um design de banda de frequência completa, multicamadas e multiórbita", disse a SpaceSail em comunicado, de acordo com a Reuters.
Para analistas e líderes da oposição, o acordo com a empresa chinesa representa um "risco" para a segurança cibernética do Brasil.
Em 21 de novembro, o site de notícias O Antagonista divulgou um vídeo destacando os potenciais perigos do acordo.
O Antagonista compartilhou imagens exclusivas de agentes de segurança chineses reprimindo protestos no Rio de Janeiro contra o regime de Xi Jinping durante a cúpula do G20, no momento em que autoridades assinavam o memorando entre a SpaceSail e a Telebrás.
Riscos para a liberdade de expressão
O site também relatou que membros da delegação chinesa retiraram à força jornalistas de uma sala onde o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, estava denunciando o histórico de direitos humanos de Pequim.
Luiz Galeazzo, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi às redes sociais para questionar as capacidades da empresa chinesa e o potencial "risco" de se permitir a censura nas redes sociais.
Galeazzo destacou o forte contraste entre a Starlink, uma empresa de longa data, e a SpaceSail, uma empresa ainda em fase de expansão.
Ele também expressou preocupação com o "risco" de confiar dados de empresas, cidadãos e agências governamentais brasileiras a uma empresa chinesa que é obrigada a compartilhar informações com o Partido Comunista Chinês (PCC).
A medida pode abrir caminho para a censura e o controle de opiniões nas redes sociais, refletindo as práticas do PCC na China, disse ele.
Confiar "dados confidenciais" a uma empresa como a SpaceSail — ou qualquer empresa ligada à China — representa um risco considerável, afirmou Roland Cruz, engenheiro e consultor de empresas com interesses na China, ao Entorno.
Visando o mercado brasileiro
A Starlink tornou a conectividade possível em regiões remotas como a Amazônia.
A empresa detém 45% de participação de mercado no Brasil e conta com parcerias de grandes instituições.
Sediada em Xangai e concorrente de satélites da China, a SpaceSail lançou apenas 18 satélites operacionais e 40 satélites de teste. Mas a empresa pretende implantar 15.000 satélites até 2030 e se concentra em mercados emergentes como um player-chave da indústria.
Segundo a Xinhua, a China opera atualmente 1.059 satélites, incluindo 492 comerciais.
Empresas chinesas privadas e estatais têm lançado rapidamente satélites para competir com a Starlink.