Política
Maduro fracassa na primeira viagem internacional desde a contestada reeleição
Tentativas do regime venezuelano de se juntar ao BRICS fracassaram e Nicolás Maduro continua sendo um pária internacional.
![O tirano venezuelano Nicolás Maduro olha para o fotógrafo antes de uma reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, em Kazan, na Rússia, em 23 de outubro. [Alexander Nemenov/AFP]](/gc4/images/2024/10/25/47959-maduro2-600_384.webp)
Por Marisela Luzardo |
CARACAS – A notícia foi uma surpresa para os cidadãos comuns da Venezuela.
Somente por meio da cobertura ao vivo da televisão pública eles souberam que o ditador Nicolás Maduro havia chegado à Rússia em um voo da Conviasa na manhã de 22 de outubro.
Maduro nunca havia sugerido deixar o país em nenhum de seus discursos ou declarações durante todo o verão ou outono, apesar das tensões decorrentes de suas contestadas alegações de vitória na reeleição de julho.
Maduro passou de 22 a 24 de outubro em Kazan, na Rússia, durante a 16ª Cúpula do BRICS+.
![O presidente russo, Vladimir Putin, aperta a mão do tirano venezuelano Nicolás Maduro em Kazan, na Rússia. [Gabinete de imprensa presidencial venezuelano]](/gc4/images/2024/10/25/47958-maduro-putin3-600_384.webp)
![O tirano venezuelano Nicolás Maduro conversa brevemente com o presidente chinês, Xi Jinping, em Kazan, na Rússia. [Conta de rede social de Nicolás Maduro]](/gc4/images/2024/10/25/47960-maduro_xi-600_384.webp)
Batizado em homenagem aos primeiros membros Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora inclui mais cinco países: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
O desejo de Maduro por validação pelo BRICS beira o desespero.
Para promover esse objetivo, ele enviou Delcy Rodríguez, sua companheira de chapa em 2024, para estabelecer as bases diplomáticas, com o objetivo de convencer os países-membros de que Maduro é um parceiro confiável e que a economia da Venezuela ganhou força.
Mas os esforços de Maduro e Rodríguez em Kazan foram infrutíferos.
Nenhum apoio à adesão ao BRICS
Acusações feitas desde julho de que Maduro roubou a eleição, seguidas de perseguição e prisão de vários manifestantes e opositores políticos, perseguem-no desde então.
A oposição mais forte veio do vizinho Brasil. Desgostoso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que havia instruído seus delegados a impedir que a Venezuela faça parte do BRICS, informou o G1, site de notícias da Globo, em 21 de outubro.
As instituições eleitorais da Venezuela precisam provar que Maduro venceu a eleição em julho, insiste Brasília.
"Não defendo a entrada da Venezuela", disse Celso Amorim, assessor de Lula, à CNN em 21 de outubro, acrescentando que não via benefício em deixar o país ingressar no BRICS.
A incapacidade de Rodríguez e do ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, de persuadir os BRICS a admitir a Venezuela fez com que Maduro viajasse pessoalmente para a Rússia.
Os venezuelanos conseguiram apenas posar para algumas fotos com os líderes dos países do BRICS e garantir a inclusão da Venezuela na BRICS TV, o canal de televisão da aliança.
A redução das esperanças quanto à adesão da Venezuela por parte de Lula causou indignação em Caracas.
Na noite de 24 de outubro, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela condenou a decisão do Brasil de "vetar" sua entrada no BRICS, classificando-a como um "gesto hostil". Caracas descreveu a medida como "agressão inexplicável e imoral" por parte do Brasil.
Ignorando as falhas de sua equipe, Maduro caracterizou sua visita como "histórica".
"Nossa presença é um avanço significativo para a geopolítica global", disse ele em sua chegada inesperada a Kazan em 22 de outubro.
Maduro viajou à Rússia para "obter uma matriz de opinião que gere reconhecimento internacional", disse Daniel Arias, cientista político e colunista do jornal venezuelano El Nacional, ao jornal colombiano El Tiempo em 23 de outubro.
Maduro "procura criar a sensação de que a Venezuela já está dentro dos BRICS, apesar de ser muito claro que a inscrição de novos países não será admitida", acrescentou Arias.
O presidente russo, Vladimir Putin, expressou apoio à adesão da Venezuela ao BRICS, mas os membros atuais precisam aprovar novos candidatos por unanimidade.
"A ilegitimidade tem consequências!"
Maduro ampliou sua coleção de fotos posando com os líderes de Rússia, Turquia, Bielorrússia, China e Autoridade Palestina.
Seus críticos o alfinetaram por voltar de mãos vazias.
O ex-promotor venezuelano Zair Mundaray criticou Maduro por ter feito uma viagem luxuosa ao exterior enquanto as prisões mantêm um número sem precedentes de presos políticos, detidos antes e durante o processo eleitoral.
"Onde está a bandeira da Venezuela na reunião do BRICS? O que Maduro foi fazer na Rússia, então? A ilegitimidade tem consequências!", postou Mundaray no X, com uma foto das bandeiras de todos os 10 estados-membros do BRICS.
A jornalista venezuelana exilada Ibéyise Pacheco destacou a recusa do BRICS em admitir a Venezuela: "Nem troque de roupa; você não vai. Maduro nem estava lá para a foto [do grupo BRICS]".
Usuários da internet inundaram as redes sociais com comentários que podem ser resumidos em um único sentimento: Maduro deixou Kazan sentindo que tinha "fracassado".