Política

Líderes mundiais contestam resultados oficiais das eleições na Venezuela

Vários países rejeitaram os resultados que declararam Nicolás Maduro vencedor, chamando-os de fraudulentos e alegando que eles não refletem a vontade do povo venezuelano.

O candidato à presidência da Venezuela Nicolás Maduro reage aos resultados das eleições em Caracas em 29 de julho. [Yuri Cortez/AFP]
O candidato à presidência da Venezuela Nicolás Maduro reage aos resultados das eleições em Caracas em 29 de julho. [Yuri Cortez/AFP]

Por AFP e Entorno |

PARIS/BOGOTÁ — Muitos países expressaram dúvidas, em 29 de julho, quanto à transparência da eleição na Venezuela após Nicolás Maduro ser declarado vencedor, enquanto seus aliados tradicionais parabenizavam o líder de longa data.

Maduro foi reeleito com 51,2% dos votos, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, que em sua maioria é leal a ele.

O candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, teve u 44,2%, informou o CNE, mas sua coalizão reivindicou a vitória, dizendo ter obtido 70%.

Confira o que os líderes mundiais disseram sobre o resultado contestado das eleições.

Mulher chora do lado de fora do consulado venezuelano em Medellín, na Colômbia, em 28 de julho. [Jaime Saldarriaga/AFP]
Mulher chora do lado de fora do consulado venezuelano em Medellín, na Colômbia, em 28 de julho. [Jaime Saldarriaga/AFP]
Vista aérea de uma bandeira venezuelana carregada por venezuelanos que vivem no México, do lado de fora da embaixada de seu país na Cidade do México, em 28 de julho. [Alfredo Estrella/AFP]
Vista aérea de uma bandeira venezuelana carregada por venezuelanos que vivem no México, do lado de fora da embaixada de seu país na Cidade do México, em 28 de julho. [Alfredo Estrella/AFP]

As dúvidas da América Latina

O Peru chamou de volta seu embaixador em Caracas diante dos resultados "muito graves" anunciados na Venezuela.

O ministro das Relações Exteriores peruano, Javier González-Olaechea, condenou de maneira incisiva os resultados oficiais.

Poucos minutos após o CNE anunciar a reeleição de Maduro, González-Olaechea declarou: "Condeno em todos os seus extremos a soma de irregularidades com intenção de fraude por parte do governo da Venezuela. O Peru não aceitará a violação da vontade do povo venezuelano".

O presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves Robles, emitiu uma declaração forte, chamando a proclamação de Maduro de "fraudulenta".

"O governo da Costa Rica repudia categoricamente a proclamação de Nicolás Maduro como presidente da República Bolivariana da Venezuela, que consideramos fraudulenta", disse Robles, em nota.

"A Costa Rica se unirá aos governos democráticos do continente e organizações internacionais para garantir que a vontade sagrada do povo venezuelano seja respeitada."

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, pediu uma "auditoria independente" da contagem dos votos.

O presidente argentino, Javier Milei, postou nas redes sociais: "FORA, DITADOR MADURO!!!".

O presidente do Chile, Gabriel Boric, questionou os resultados, chamando-os de "difíceis de acreditar". No início da manhã, Boric afirmou que o Chile não reconhecerá "nenhum resultado que não seja verificável".

"O regime de Maduro deve compreender que os resultados que publica são difíceis de acreditar. A comunidade internacional e especialmente o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigem total transparência das atas e do processo e que observadores internacionais não comprometidos com o governo prestem contas pela veracidade dos resultados", escreveu Boric, em sua conta no X.

"Do Chile, não reconheceremos nenhum resultado que não seja verificável", reiterou.

O presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo de León, também expressou dúvidas significativas com relação aos resultados das eleições venezuelanas.

Em mensagem transmitida por seus canais oficiais, Arévalo afirmou: "A Venezuela merece resultados transparentes, precisos e que correspondam à vontade de seu povo".

Ele também enfatizou a importância da observação internacional. "Recebemos com muitas dúvidas os resultados anunciados pelo CNE", disse.

O presidente do Equador, Daniel Noboa, convocou uma reunião do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos para abordar a "delicada situação" na Venezuela.

“Em toda a região, há políticos que tentam se agarrar ao poder e que pretendem tirar a paz dos nossos cidadãos. É isso que enfrentamos, esse é o perigo da ditadura, e hoje somos testemunhas de como mais um deles tenta tirar a esperança de milhões de venezuelanos”, disse.

"Preocupações" nos EUA e no Reino Unido

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que Washington tinha "graves preocupações de que o resultado anunciado não refletisse a vontade ou os votos do povo venezuelano".

"É essencial que cada voto seja contado de forma justa e transparente, que as autoridades eleitorais compartilhem imediatamente informações com a oposição e observadores independentes [sejam chamados] sem demora e que as autoridades eleitorais publiquem a contagem detalhada dos votos", disse Blinken no Japão. "A comunidade internacional está observando isso muito de perto e responderá de acordo."

A Grã-Bretanha disse estar "preocupada" com as alegações de "irregularidades" na contagem de votos na Venezuela.

"Pedimos a publicação rápida e transparente de resultados completos e detalhados para garantir que o resultado reflita os votos do povo venezuelano", disse o Ministério das Relações Exteriores em comunicado.

Europa quer "transparência"

A mensagem da Europa foi um pedido de "transparência" no processo de votação.

"O povo da Venezuela votou no futuro de seu país pacificamente e em grande número. Sua vontade deve ser respeitada. Garantir total transparência no processo eleitoral, incluindo contagem detalhada de votos e acesso às atas de votação nas seções eleitorais, é vital", disse o chefe de Relações Exteriores da UE, Josep Borrell.

"Queremos uma total transparência no processo", disse o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares. "E o que pedimos e também esperamos é uma publicação das atas [de votação], mesa por mesa, para que possa haver uma verificação desses resultados."

O Ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, disse estar "perplexo" com a vitória de Maduro. "Pedimos resultados que possam ser verificados com acesso a documentos: o resultado que anuncia a vitória de Maduro reflete verdadeiramente a vontade do povo?"

Saudações de autocratas

Ditadores aplaudiram Maduro.

O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse ter conversado com o "irmão" Maduro "para transmitir felicitações calorosas em nome do partido, do governo e do povo cubano pela histórica vitória eleitoral alcançada".

Nicarágua, Bolívia e Honduras também felicitaram o presidente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse sobre Maduro: "Lembre-se, você é sempre bem-vindo em solo russo".

A China parabenizou a Venezuela por "realizar sem problemas sua eleição presidencial".

"A China e a Venezuela são bons amigos e parceiros que se apoiam mutuamente", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian.

Pequim é o principal credor da Venezuela.

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