Sociedade
"Taxi dancers" conduzem turistas pela intimidante cena de tango de Buenos Aires
Dançar tango durante a visita a Argentina é obrigatório, mas os passos podem ser intrincados e chegar à pista da 'milonga' sem prática pode ser difícil. Ainda assim, 'você aprende praticando'.
![Os taxi dancers de tango profissionais David Tolosa e Laura Florencia Guardia posam para foto durante uma milonga no icônico salão de tango Marabú, em Buenos Aires. [Juan Mabromata/AFP]](/gc4/images/2024/10/15/47851-tango2-600_384.webp)
Por AFP |
BUENOS AIRES – Para muitas pessoas, dançar tango durante uma visita a Buenos Aires está na lista de desejos. O único problema: os passos são difíceis de aprender e aventurar-se sem conhecimento na pista de uma"milonga" pode ser uma experiência brutal.
Conheça os "taxi dancers" (dançarinos de taxi) da capital argentina – profissionais que acompanham dançarinos novatos em uma noitada na cidade.
Sem ajuda especializada, a experiência pode ser “intimidante”, disse à AFP o taxista David Tolosa, 35 anos.
"A pista de dança... é como uma vitrine. As pessoas estão constantemente te observando. Há muitos dançarinos, dançarinos conhecidos, que ficam sentados olhando a pista... Você se sente observado, sente aquela pressão."
![Pessoas dançam tango durante uma milonga no salão de tango Marabú, em Buenos Aires, em 17 de agosto. [Muan Mabromata/AFP]](/gc4/images/2024/10/15/47852-tango3-600_384.webp)
![Os dançarinos russos Valentin Bobkov e Ekaterina Tsybrova se apresentam na categoria Estilo Tango de Palco durante a final do Campeonato Mundial de Tango, em Buenos Aires, no dia 27 de agosto. [Juan Mabromata/AFP]](/gc4/images/2024/10/15/47850-tango1-600_384.webp)
Dançarinos experientes podem ser impacientes e “um pouco cruéis” com os novatos, disse Tolosa, acrescentando que os que não têm prática podem levar cotoveladas ou ser pisoteados.
Para as mulheres que estão sozinhas, pode ser uma experiência frustrante ter de esperar – como é o costume – por um convite para dançar que talvez nunca chegue.
“As mulheres preferem me contratar porque podem passar horas sentadas [esperando, se não tiverem um parceiro garantido]", disse Tolosa.
Os clientes de Tolosa são quase exclusivamente estrangeiros, "a maioria mulheres, principalmente asiáticas, japonesas, chinesas, mas também francesas e britânicas", que pagam cerca de US$ 50 por hora.
A época mais movimentada para ele é agosto, quando Buenos Aires promove todos os anos um Festival de Tango.
Mesmo fora do festival, "milongas" regulares – eventos sociais em que as pessoas se reúnem para dançar tango – são realizadas durante todo o ano pela cidade.
'Aprender praticando'
A maioria dos taxistas como Tolosa trabalha de forma independente, mas a capital também abriga agências como a TangoTaxiDancers, que tem 17 anos de experiência
A agência oferece aulas particulares, além de passeios de dança acompanhados, prometendo em seu site: “Não sente e espere – dance e divirta-se”.
Mas apenas conhecer os passos não é suficiente para curtir uma noite de tango, afirmam os entendidos.
Para isso, é preciso também conhecer a arte do “cabeceo”, convite não verbal para dançar que usa apenas um movimento da cabeça.
“Existem certos códigos no tango, como... convidar alguém para dançar”, explicou a taxista e professora Laura Florencia Guardia, 28 anos.
“Ainda existem alguns aspectos tradicionais, como convidar alguém para dançar olhando de uma mesa para outra. (...) As pessoas também precisam aprender isso. Por isso é bom que contratem dançarinos para mostrar a eles esse mundo.”
Guardia evitava habilmente os pés de Salvador Bolanos, um entusiasta de tango mexicano que frequentou uma de suas aulas. “Nunca um cliente pisou em meus pés!", se gabou ela, rindo.
Bolanos, engenheiro de sistemas, 37 anos, disse que estava em Buenos Aires para “aprender sobre a música, em particular”. “Estou aprendendo sobre o tango: a cultura, a composição.”
Ele disse ter gostado da “melancolia do tango, mas ao mesmo tempo da força que ele tem”.
Os turistas de tango obtêm dos “dançarinos de táxi” algo que, de outra forma, poderiam não perceber: a experiência do mundo real em um ambiente tradicional, destacou Guardia.
No começo eles ficam tímidos, depois ganham coragem”, disse ela à AFP.
"Você aprende praticando."