Diplomacia

Próxima conferência na Argentina destaca preocupações em relação à China na América Latina

Pequim está migrando de táticas brandas para táticas coercivas ao impor sua vontade sobre a América Latina, dizem observadores, e próxima conferência de defesa em Mendoza provavelmente abordará essas preocupações.

A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, visitou a China em abril para tratar com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, sobre elementos cruciais da relação política e econômica entre os dois países. [Ministério das Relações Exteriores da Argentina]
A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, visitou a China em abril para tratar com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, sobre elementos cruciais da relação política e econômica entre os dois países. [Ministério das Relações Exteriores da Argentina]

Por Analía Rojas |

BUENOS AIRES -- A XVI Conferência de Ministros da Defesa das Américas, que será realizada de 13 a 16 de outubro em Mendoza, Argentina, ocorre em meio a crescentes preocupações com relação a conflitos transnacionais na Ucrânia e no Oriente Médio e a cada vez maior influência da China na América Latina.

Embora a agenda do evento inclua temas como crime organizado, defesa cibernética e assistência humanitária, há uma preocupação latente com a crescente influência da China em setores-chave como educação e tecnologia.

As iniciativas de "soft power" (poder brando) da China são cada vez mais vistas como uma ameaça complexa à soberania das nações latino-americanas.

Instituições como os Institutos Confúcio, o Fundo de Cooperação China-ALC, a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) e o Centro de Inovação China-Brasil estão no centro das atenções.

O presidente chinês, Xi Jinping (à direita), brinda com a então presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner durante um jantar em Buenos Aires em julho de 2014. [Juan Mabromata/AFP)
O presidente chinês, Xi Jinping (à direita), brinda com a então presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner durante um jantar em Buenos Aires em julho de 2014. [Juan Mabromata/AFP)

Originalmente estabelecidos para promover o ensino da língua e da cultura chinesas, os Institutos Confúcio geraram críticas nos Estados Unidos e na Europa por promover a propaganda do Partido Comunista Chinês e facilitar a espionagem industrial.

Em contraste, na América Latina essas instituições operam sem gerar grandes debates públicos.

O pesquisador Marcos Falcone, da Fundación Libertad, cita um estudo da Universidade da República do Uruguai em seu livro China na América Latina: O Outro Lado da Moeda (2024).

"Está claro que [os Institutos Confúcio] têm objetivos alinhados com a política externa [da China]", diz Falcone.

"A cultura e a língua chinesas são apresentadas através da perspectiva e da liderança comunista", afirma.

As acadêmicas Nahir Miner e Karen Gómez realizaram uma pesquisa intitulada “Soft power chinês na Argentina através dos Institutos Confúcio”, publicada na edição de julho-dezembro de 2024 da Revista de Integração e Cooperação Internacional da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina.

A pesquisa concluiu que os Institutos Confúcio não apenas promovem a língua e a cultura chinesas, mas também facilitam a influência política do regime chinês.

Na Argentina, os Institutos Confúcio presentes em universidades como a de Buenos Aires, a Universidade Nacional de La Plata e a Universidade Nacional de Córdoba fortaleceram os laços acadêmicos. Porém, também despertaram preocupações quanto aos seus verdadeiros objetivos, especialmente no atual contexto de tensões geopolíticas.

Ambas as pesquisadoras afirmam que, embora a crescente influência chinesa tenha como objetivo oficial a melhoria das relações com os países anfitriões, pode estar escondendo uma estratégia de controle que alimenta preocupações com a soberania e a liberdade acadêmica.

Realidade x retórica

Embora o governo de Javier Milei tenha adotado uma posição firme contra o comunismo e a influência chinesa, os desafios econômicos da Argentina dificultam os esforços para alcançar uma separação significativa da China.

Duas décadas de dependência econômica da China impactaram significativamente a Argentina, devido a acordos anteriores que facilitaram investimentos chineses em setores críticos como os de energia, transporte e extração de lítio, entre outros.

Projetos como as hidrelétricas de Santa Cruz, que são financiadas em 85% por capital chinês e devem fornecer 3% da energia argentina, exemplificam essa influência crescente.

O encontro entre a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, e o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, em Nova York, em 25 de setembro, destacou essa contradição.

Apesar da retórica dura do governo Milei, Mondino enfatizou a importância do comércio com Pequim e a abertura a novos investimentos chineses.

Essa situação reflete a situação difícil da Argentina: o país pode rejeitar o modelo político chinês, mas suas necessidades econômicas urgentes exigem a continuidade da cooperação.

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