Economia
Construção de porto peruano avança em meio a crescentes preocupações sobre intenções chinesas
Peru tem tido pouca discussão sobre guindastes construídos pela China no porto de Chancay. Investigações revelam que os equipamentos estão aparelhados com sistemas de comunicação ocultos que podem permitir espionagem e interromper as cadeias de suprimentos.
![Vista aérea do local onde a empresa chinesa Cosco Shipping está construindo o porto de Chancay, cerca de 80 km ao norte de Lima. Uma vez concluído, deverá se tornar uma rota comercial essencial entre a América do Sul e a Ásia. [Ernesto Benavides/AFP]](/gc4/images/2024/09/06/47532-peru1-600_384.webp)
Por John Caicedo |
LIMA — O porto marítimo peruano de Chancay, que deverá se tornar o maior na costa do Pacífico da América do Sul, está progredindo rapidamente em direção ao término prometido para novembro.
Mas as preocupações sobre possíveis intenções ocultas da China — principal financiadora e beneficiária do projeto — estão se intensificando.
As suspeitas aumentaram com a chegada ao Peru de sete guindastes de propriedade da empresa chinesa ZPMC, que está sendo investigada pela Câmara dos Representantes dos EUA por supostamente usar seus equipamentos para instalar ferramentas que poderiam ser usadas para espionagem.
Esses guindastes estão destinados a Chancay.
![Moradores protestam contra suposta monopolização do abastecimento de água de Chancay e cidades vizinhas pela chinesa Cosco Shipping Ports. [Judith Apolinar]](/gc4/images/2024/09/06/47533-chancay-600_384.webp)
![Vista geral do local onde a empresa chinesa Cosco Shipping Ports está construindo um porto em Chancay, cerca de 80 km ao norte de Lima. [Ernesto Benavides/AFP]](/gc4/images/2024/09/06/47534-chancay2-600_384.webp)
A investigação dos EUA se concentra em cerca de 200 guindastes chineses instalados em portos norte-americanos, os quais o Comitê de Segurança Nacional da Câmara e o comitê especial da Câmara sobre a China alegam conter modems celulares ocultos capazes de permitir comunicação remota — um aspecto que passou despercebido no momento da instalação.
Tal sistema poderia permitir que Pequim "não apenas prejudicasse os concorrentes comerciais com espionagem, mas também interrompesse as cadeias de suprimentos e o movimento de cargas, devastando a economia do nosso país", disse o presidente do Comitê de Segurança Nacional, Mark Green, à CNN em março.
No Peru, Mario de las Casas, porta-voz da Cosco Shipping, confirmou a chegada dos guindastes no início de junho.
Ele não falou sobre as alegações dos EUA, que receberam pouca atenção na imprensa peruana.
A Cosco Shipping Ports Limited, de propriedade estatal chinesa, está liderando o desenvolvimento de Chancay com um investimento de aproximadamente US$ 3,6 bilhões.
Até agora, o terminal criou cerca de 1.300 empregos diretos e 8.000 indiretos. Quando estiver totalmente operacional, gerará receitas anuais estimadas de pelo menos US$ 4,5 bilhões ao Peru, uma perspectiva que gera entusiasmo generalizado.
Situado a cerca de 80 km ao norte de Lima, o porto está mais de 90% concluído e deve ser inaugurado em novembro.
A inauguração deverá ter a presença do presidente chinês, Xi Jinping, que visitará o Peru na ocasião para o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.
A previsão é que as operações comecem em 2025.
Lima espera que Chancay se torne um importante centro de desenvolvimento comercial, industrial e de transporte, impulsionando o comércio não apenas para o Peru, mas também para os países vizinhos que buscam expandir seu comércio com a Ásia, especialmente com a China.
O Brasil pode se envolver no projeto, já que o governo peruano anunciou planos de conectar o porto a outra grande iniciativa: o Corredor Bioceânico.
Este corredor ligará o Brasil e o Peru por estrada através da Amazônia.
Isso daria ao Brasil acesso ao Pacífico e ofereceria ao Peru uma rota para o Atlântico.
Geopolítica
Esse desenvolvimento envolve não apenas considerações comerciais e econômicas, mas também implicações geopolíticas significativas, dizem analistas.
A escala do investimento da China no Peru, quase US$ 30 bilhões, pode explicar a crescente fidelidade de alguns líderes empresariais e políticos peruanos a Pequim.
Durante sua visita a Lima nos dias 28 e 29 de agosto, o subsecretário de Estado dos EUA para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente, José Fernández, destacou que os investimentos chineses em outros países servem como instrumentos-chave da política externa de Pequim.
Os avisos de Washington não têm a intenção de dissuadir o Peru ou outros países de se envolverem com a China, já que os próprios Estados Unidos mantêm "relações significativas" com Pequim, salientou Fernández.
"Nosso objetivo é melhorar nossas próprias ofertas ao compará-las e encorajar qualquer país anfitrião a fazer o mesmo com outras propostas", explicou ele em um encontro com jornalistas durante sua visita.
Entre as vantagens comerciais destacadas pelos Estados Unidos, Fernández observou que o país faz parcerias com empresas responsáveis — uma referência sutil às preocupações constantes sobre as práticas ambientais e a responsabilidade social das empresas chinesas.
"Nossa oferta vem de empresas que cumprem a lei, respeitam as regulamentações trabalhistas, seguem as melhores práticas ambientais e não forçam as comunidades a escolherem entre desastre ecológico e crescimento econômico. Acreditamos que isso representa uma boa proposta", afirmou o oficial.
"Nosso comércio é motivo de orgulho porque vai além da mera extração e exportação. Ele cria empregos e traz tecnologia avançada", elogiou ele.
Os Estados Unidos, devido ao seu modelo político e econômico, não podem obrigar suas empresas a buscarem projetos específicos por razões geopolíticas, acrescentou.
Em contraste, a estrutura governamental centralizada da China, onde a maioria das empresas são estatais ou estão intimamente alinhadas ao Partido Comunista Chinês, permite tal influência.
Chancay representa um sinal de esperança para os peruanos, mas também levanta a preocupação de dar aos chineses uma licença para se comportarem mal.
Moradores da área em questão estão preocupados devido ao histórico de empresas chinesas, que frequentemente abusam do meio ambiente e dos direitos dos trabalhadores.