Economia
Construção de megaporto pela China no Peru continua abalando comunidade local
Desde o início de um projeto de construção conduzido pela empresa estatal chinesa Cosco, em 2016, cidade peruana é afetada por explosões, desmoronamentos de terras e falta de responsabilização.
![Moradores de Chancay protestam contra a suposta monopolização do abastecimento de água na cidade e em municípios vizinhos pela Cosco Shipping Ports, de propriedade chinesa. [Judite Apolinar]](/gc4/images/2023/11/16/45040-chancay1-600_384.webp)
Por Alicia Gutiérrez |
LIMA – A construção de um porto marítimo por uma gigante naval chinesa está enfurecendo os moradores de uma cidade peruana.
Os moradores de Chancay, situada cerca de 80 km ao norte de Lima, mobilizaram-se mais uma vez em uma manifestação pacífica em 10 de novembro.
Eles se uniram para protestar contra a privatização dos recursos naturais e condenar os abusos sociais e ambientais causados pelas obras de um megaporto em construção pela estatal chinesa Cosco Shipping Ports.
Com um investimento superior a US$ 3,6 bilhões, o projeto deve se tornar o maior porto do Pacífico sul-americano, sendo o empreendimento mais significativo do gênero da China na região. Segundo os construtores, o porto terá calado de 16 metros e capacidade para acomodar navios que transportam mais de 18.000 contêineres cada.
![Vista geral das obras de construção de um porto realizadas pela empresa chinesa Cosco Shipping Ports em Chancay, cerca de 80 quilômetros ao norte de Lima, em 22 de agosto. [Ernesto Benavides/AFP]](/gc4/images/2023/11/16/45041-chancay2-600_384.webp)
![Trabalhador no local onde a empresa chinesa Cosco Shipping Ports está construindo um porto em Chancay, cerca de 80 quilômetros ao norte de Lima, em 22 de agosto. [Ernesto Benavides/AFP]](/gc4/images/2023/11/16/45042-chancay3-600_384.webp)
A inauguração do megaporto está prevista para o primeiro semestre de 2024, coincidindo com a esperada visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Peru para a cúpula anual do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC).
A construção é liderada pela Cosco Shipping Ports Chancay Perú SA, uma joint venture com 60% de participação da Cosco Shipping Ports Ltd e 40% da mineradora Volcan, subsidiária da empresa suíça Glencore.
Desde 2016, os 63.000 moradores da zona costeira ao norte de Lima testemunharam explosões, escavações e o movimento incessante de máquinas pesadas causando danos estruturais às suas casas.
Agitando uma comunidade
No início de novembro, os moradores fizeram uma manifestação para defender seu direito à água potável, reclamando da monopolização do abastecimento de água pela construtora chinesa.
O protesto foi a mais recente manifestação da comunidade contra a obra em andamento.
As autoridades ignoram as queixas, afirma Judith Apolinar, porta-voz da comunidade.
"A agenda parece favorecer a privatização da água e sua entrega aos chineses... Há um poço em Chancay destinado à agricultura, mas agora está sendo usado para a cidade em construção, onde vivem os trabalhadores chineses responsáveis pelo projeto", diz.
Apolinar relata um passado preocupante em que os pescadores artesanais locais foram deslocados à força de suas fontes de subsistência para dar lugar à construção do terminal marítimo na área.
“A construção deste megaprojeto foi autorizada sem o conhecimento de uma aldeia de pesca que se opôs ativamente ao projeto devido a preocupações com a potencial contaminação de sua baía”, afirma Apolinar, citando uma investigação conduzida pelo veículo independente Convoca.
Ela observa que a operação foi realizada de forma clandestina, facilitada por uma das empresas offshore da Volcan, que foi utilizada “para adquirir o terreno para uma parte deste grande projeto”.
O projeto ainda gerou outras preocupações.
Os moradores expressaram grande apreensão com o impacto ambiental associado à pesca chinesa e aos planos de utilizar o novo megaporto para exportações de minerais à China.
“O estabelecimento de bases portuárias chinesas ao longo da costa peruana significa apoio logístico à extensa frota pesqueira chinesa, representando uma ameaça à sustentabilidade da lula e de várias outras espécies no Pacífico sul-americano”, disse Marcos Kisner Bueno, ex-secretário do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Pesca (FONDEPES), ao Entorno.
Mas a construção do porto representa um risco significativo para a vida dos moradores, marcada por vários incidentes de afundamento do solo durante a fase de obras.
O mais recente, em maio, resultou na destruição de várias casas e em danos graves em outras durante as obras de construção de um túnel.
Preocupações de não conformidade
No início de novembro, uma coligação de membros do Congresso se reuniu para avaliar a situação dos moradores do porto de Chancay.
Eles exigiram que a empresa chinesa cumpra os termos acordados e compense os moradores afetados durante a construção do megaporto.
O parlamentar peruano Enrique Wong Pujada enfatizou a necessidade de garantir que a empresa chinesa cumpra todos os acordos e compromissos assumidos com as autoridades e a população local durante toda a obra.
Os parlamentares Luis Aragón Carreño e Kelly Portalatino Ávalos expressaram grande preocupação com o fato de a empresa estatal chinesa não ter honrado os compromissos assumidos com as autoridades e os moradores de Chancay.
Eles destacaram as questões relacionadas à compensação e ao reconhecimento dos danos causados, enfatizando a necessidade de uma resolução rápida.