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Relatório alerta para esforço chinês em massa para manipular o ambiente global de informação

Além de gastar bilhões para espalhar desinformação, Pequim adquire participações na mídia estrangeira, banca influenciadores on-line e busca cooptar a elite política e jornalistas.

Mulher faz foto da última edição do jornal Apple Daily no centro de Hong Kong em 24 de junho de 2021, depois que o tabloide pró-democrata foi forçado a fechar. [Bertha Wang/AFP]
Mulher faz foto da última edição do jornal Apple Daily no centro de Hong Kong em 24 de junho de 2021, depois que o tabloide pró-democrata foi forçado a fechar. [Bertha Wang/AFP]

Por AFP e Entorno |

WASHINGTON -- A China está gastando bilhões de dólares globalmente para espalhar desinformação e ameaçar causar uma "forte contração" da liberdade de imprensa em todo o mundo, alertou um relatório do Departamento de Estado dos EUA publicado na última quinta-feira (28 de setembro).

A "manipulação de informação global da China não é simplesmente uma questão de diplomacia pública -- mas um desafio à integridade do espaço global de informação", diz o relatório.

"Se não forem controlados, os esforços de Pequim podem resultar em um futuro no qual a tecnologia exportada pela RPC (República Popular da China) cooptaria os governos locais e o medo da retaliação direta de Pequim produziria uma forte contração da liberdade de expressão global."

O relatório divulgado pelo Centro de Engajamento Global (GEC) do Departamento de Estado afirma que Pequim gasta bilhões de dólares anualmente na "manipulação de informações estrangeiras" com o uso de propaganda, desinformação e censura, enquanto promove notícias positivas sobre a China e o Partido Comunista, que governa o país.

Ao mesmo tempo, segundo o documento, a China suprime informações críticas que contradizem suas narrativas sobre questões polêmicas, como Taiwan, direitos humanos e sua economia em declínio.

"Quando você olha as peças do quebra-cabeça e as junta, você vê uma ambição impressionante da RPC de buscar dominar a informação em regiões-chave do mundo", disse aos repórteres James Rubin, enviado especial e coordenador do CEG.

"Se não pararmos esta manipulação de informações, haverá uma destruição lenta e contínua dos valores democráticos",afirmou. "Não queremos ver uma mistura orwelliana de fatos e ficção no nosso mundo."

Segundo o relatório, a abordagem chinesa de manipulação de informações inclui a promoção do "autoritarismo digital", explorando as organizações internacionais e exercendo o controle da mídia em língua chinesa.

Pequim, acrescenta o relatório, também adquiriu participações na mídia estrangeira, banca influenciadores e busca cooptar elites políticas estrangeiras e jornalistas.

Esses esforços podem permitir que Pequim "remodele o ambiente de informação global", destaca o documento.

O relatório acusa a China de explorar a rede social WeChat para disseminar desinformação direcionada a "falantes de língua chinesa que vivem em democracias" e a gigante de tecnologia chinesa ByteDance, dona do TikTok, de tentar "impedir potenciais críticos de Pequim de usarem suas plataformas".

Desinformação na América Latina

Uma reportagem publicada na revista Time em 11 de julho revelou que supostas agências de notícias falsas no Chile, na Costa Rica e no Paraguai publicaram ao menos três notícias pró-China em suas contas do Twitter (hoje "X") em maio, com pouco tempo de diferença entre as postagens.

Depois, descobriu-se que essas contas eram parte de uma pequena rede pró-Pequim que tinha como alvo o público de países latino-americanos. A rede usava as contas do Twitter para espalhar propaganda pró-China e desinformação.

A revelação de que essas contas faziam parte de um rede pró-Pequim mostra que a China está usando as redes sociais como uma alternativa aos métodos tradicionais de persuasão que usou por muitos anos, como cultivar relações com jornalistas e executivos de mídia.

A reportagem da revista Time, com o apoio de uma investigação da Nisos, empresa de cibersegurança sediada no estado da Virgínia, EUA, sugere que a propaganda pró-China nas redes sociais da América Latina faz parte de "uma operação para expandir a influência chinesa na região, com vistas a promover o status do país como um forte aliado e parceiro comercial."

A Nisos descobriu que as contas do Twitter citadas pareciam ser administradas por um único operador que promovia conteúdo estratégico de notícias na Espanha.Segundo a empresa, as contas eram financiadas por Pequim para criar narrativas positivas sobre a China e apoiar seus esforço políticos e diplomáticos.

As contas, que foram configuradas para burlar a política de rotulagem de mídia estatal do X, estão "amarradas ao Serviço de Notícias da China, a segunda maior agência de notícias estatal do país, que opera vários escritórios internacionais", segundo a Time.

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