Crime e Justiça
Trolls russos e iranianos são vistos reforçando atrocidades do Hamas online
Narrativas de violência e caos do Hamas têm forte repercussão online porque são “sistematicamente difundidas por trolls iranianos e russos e impulsionadas pelos meios de comunicação estatais”.
![Manchas de sangue na parede de uma delegacia de polícia israelense em Sderot, após ter sido danificada durante batalhas para expulsar militantes do Hamas que estavam mobilizados no local, em 8 de outubro. [Ronaldo Schemidt/AFP]](/gc4/images/2023/10/12/44482-blood-600_384.webp)
Por Entorno e AFP |
A morte de uma avó transmitida ao vivo, homens armados anunciando aos israelenses que seus familiares foram mortos e vídeos humilhantes de reféns mostram a determinação do Hamas em usar propaganda nas redes sociais junto com a violência, dizem analistas, acrescentando que trolls russos e iranianos estão ajudando os esforços do grupo militante.
O telefone de Mor Bayder não tocou na manhã de 7 de outubro – ela esperava a habitual ligação de sua avó para perguntar se ela estava acordada.
Em vez disso, Bayder descobriu no Facebook imagens do “assassinato brutal” da avó durante o ataque do Hamas a um kibutz na fronteira com a Faixa de Gaza, relatou ela na rede social.
"Um terrorista invadiu sua casa, a matou, pegou seu telefone, fotografou o horror e postou em seu perfil do Facebook. Foi assim que descobrimos", disse.
![Soldados israelenses inspecionam armas usadas por seus inimigos em frente a uma delegacia de polícia israelense em Sderot, em 8 de outubro, após batalhas para expulsar militantes do Hamas que estavam mobilizados no local. [Jack Guez/AFP]](/gc4/images/2023/10/12/44483-weapons-600_384.webp)
Em declarações à emissora de televisão israelense Canal 13, Bayder contou, chorando, que o assassino ligou para sua tia para obrigá-la a ver as imagens da avó “caída numa poça de sangue” no kibutz de Nir Oz, situado a apenas 2 quilômetros de Gaza, controlada pelo Hamas.
Escala sem precedentes
A violência é o tema recorrente em muitas outras fotos e vídeos divulgados na internet pelo Hamas ou por seus apoiadores desde o início do ataque, em 7 de outubro.
“Isso é intencional: o objetivo é gerar uma sensação de impotência, paralisia e humilhação”, diz Michael Horowitz, analista de segurança da consultoria Le Beck International.
Mesmo as imagens mais terríveis se tornaram virais, como a de uma mulher parcialmente nua sendo levada na parte traseira de uma picape, em meio a gritos de homens armados.
A mãe da jovem a identificou como Shani Louk, uma alemã-israelense de cerca de 20 anos. Ela estava na festa rave no deserto que foi transformada em um banho de sangue na manhã de sábado.
Outro vídeo amplamente compartilhado mostra uma família prostrada no chão.
Um menino de apenas seis ou sete anos pergunta à mãe se sua irmã assassinada voltará. Ela responde: "Não", soluçando, e se joga sobre o filho para protegê-lo no momento em que as pernas de alguém que parece ser o sequestrador passam na frente da lente.
Embora isso não seja novidade no arsenal do Hamas, “hoje vemos métodos muito mais sofisticados de manipulação e propaganda do Hamas”, diz Ruslan Trad, pesquisador de segurança do Laboratório de Pesquisa Forense Digital do Conselho do Atlântico.
Ataques cibernéticos
O grupo militante também usa ataques cibernéticos contra alvos israelenses para ampliar seu alcance.
“Vários grupos lançaram dezenas de ataques de negação de serviço a sites governamentais e privados, deixando-os desconectados, mas sem causar danos duradouros”, informou o Washington Post na segunda-feira.
A invasão começou na manhã de domingo e continuou ao longo de grande parte da segunda-feira.
Um ataque de negação de serviço particularmente eficaz teve como alvo o site do Jerusalem Post e foi reivindicado pelo Anonymous Sudan, segundo o jornal.
O grupo “é aliado do KillNet, um grupo de hackers nacionalistas russos”, afirmou o jornal.
“O grupo do Sudão reforçou significativamente a capacidade do KillNet, levando alguns a especular que ambos são frentes para os serviços do governo russo”, acrescentou.
Trolls russos e iranianos
As narrativas do Hamas têm forte repercussão online porque são “sistematicamente difundidas por trolls iranianos e russos e impulsionadas pelos meios de comunicação estatais”, diz David Colon, professor da Universidade Sciences Po, em Paris.
Além disso, a China adota uma “atitude ambígua”, afirma ele, destacando que a plataforma de vídeo TikTok, pertencente a uma empresa chinesa, “deixa passar uma enorme quantidade de conteúdo chocante”.
Ao publicar vídeos, o Hamas também fornece as provas mais claras de atos que podem ser atribuídos ao grupo, tanto em curto quanto em longo prazo.
“O Hamas e outros meios de comunicação palestinos, associados ou não, estão fornecendo evidências de crimes de guerra, o que terá um impacto”, disse Horowitz.
O grupo militante já foi classificado como uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE), após uma série de atentados suicidas nas décadas de 1990 e 2000.
Porém, segundo Trad, a perspectiva de eventuais consequências jurídicas internacionais não preocuparia muito os militantes palestinos.
“O Hamas e os seus aliados não temem ser acusados de cometer crimes de guerra e massacres”, afirma.