Política

Rachaduras na armadura: expurgo militar de Xi Jinping gera dúvidas sobre controle

Frequência destas limpezas sugere uma preocupação mais profunda: a lealdade dentro das trincheiras do governo não é tão firme como Xi gostaria.

Presidente chinês e chefe do Partido Comunista da China, Xi Jinping, também presidente da Comissão Militar Central de seu país, cumprimenta oficiais de alto escalão e representantes de soldados e servidores civis das tropas do Exército de Libertação Popular mobilizadas em Lanzhou, na província de Gansu, em 12 de setembro do ano passado. [Li Gang/Xinhua via AFP]
Presidente chinês e chefe do Partido Comunista da China, Xi Jinping, também presidente da Comissão Militar Central de seu país, cumprimenta oficiais de alto escalão e representantes de soldados e servidores civis das tropas do Exército de Libertação Popular mobilizadas em Lanzhou, na província de Gansu, em 12 de setembro do ano passado. [Li Gang/Xinhua via AFP]

Por Entorno |

A recente destituição de representantes militares de alto escalão pela China, incluindo o general Miao Hua, o vice-almirante Li Hanjun e o cientista nuclear Liu Shipeng, marca um novo capítulo da grande repressão do presidente Xi Jinping ao sistema de defesa e segurança do país.

Embora a narrativa oficial justifique esses expurgos como parte de uma campanha anticorrupção, a escala e a frequência dessas ações levantam dúvidas mais profundas sobre a estabilidade do controle de Xi sobre as forças armadas e a lealdade do Exército de Libertação Popular (ELP).

Expurgo: um padrão de consolidação

Desde que assumiu o poder em 2012, Xi não consegue confiar nos militares, culpando a corrupção e a indisciplina dentro do ELP. Dezenas de generais de alto escalão, incluindo dois ex-ministros da Defesa, foram destituídos ou punidos sob sua liderança.

Miao, que já foi o general mais jovem da hierarquia militar chinesa e uma figura-chave na gestão da ideologia do Partido Comunista dentro do exército, é a mais recente vítima de destaque.

A ascensão meteórica de Miao sob a liderança de Xi, seguida de sua dramática queda, evidencia a natureza precária do poder dentro das forças armadas da China. A destituição do general, juntamente com o vice-almirante Li e Liu, expõem questões profundamente enraizadas no ELP.

No entanto, a utilização repetida de “graves violações da disciplina” como eufemismo para corrupção convida ao ceticismo. Críticos questionam se Xi está realmente erradicando a má conduta ou tentando eliminar dissidentes e consolidar sua autoridade.

Lealdade ou medo?

Xi tem enfatizado consistentemente a importância da lealdade ideológica entre os oficiais do ELP, vinculando sua lealdade aos objetivos de modernização militar e influência global do Partido Comunista. No entanto, a frequência dos expurgos sugere uma preocupação mais profunda: a lealdade dentro das trincheiras do governo não é tão firme como Xi gostaria.

A destituição de funcionários de alto escalão gera dúvidas quanto ao total alinhamento da liderança do exército à visão de Xi.

Facções entre os militares ainda poderiam resistir ao seu governo centralizado. Ou talvez a corrupção seja tão generalizada que até os aliados de Xi tenham de ser eliminados.

Frágil comando

As implicações dessas caças às bruxas vão além da política interna. Um exército que está constantemente sob julgamento e reorganização corre o risco de perder coesão e eficácia operacional. Para um país que pretende se tornar uma superpotência, essa instabilidade poderia ter consequências importantes.

Além disso, a destituição de figuras como Liu, engenheiro-chefe adjunto do programa nuclear da China, destaca potenciais vulnerabilidades em setores cruciais.

A existência de corrupção ou dissidência em níveis tão elevados não indica nada de positivo sobre a integridade das capacidades estratégicas da China.

O dilema do ditador

A consolidação de poder agressiva de Xi pode garantir o controle em curto prazo, mas expõe os riscos inerentes à autoridade centralizada. Um sistema que depende de expurgos para manter a ordem carece de estabilidade orgânica.

Agora, os observadores se perguntam: por quanto tempo Xi conseguirá sustentar essa abordagem até que as fissuras na sua armadura se tornem excessivamente grandes para serem ignoradas?

O foco não deve ser apenas nos indivíduos destituídos, mas também nas implicações mais amplas para o futuro militar e político da China.

Xi pode estar reforçando seu controle, mas talvez o sistema esteja lutando para manter a coesão sob o peso de suas próprias contradições.

As respostas a essas perguntas moldarão não só a trajetória da China, mas também o seu papel no cenário global.

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