Crime e Justiça

Dentro da megaprisão de El Salvador que abriga 12 mil supostos membros de gangues

Grupo de direitos humanos, no primeiro aniversário do estado de emergência, relatou 174 mortes de detentos.

Detentos permanecem em uma cela da megaprisão do Centro de Confinamento Contra o Terrorismo (CECOT), onde são mantidas centenas de membros das gangues MS-13 e Barrio 18, durante visita humanitária organizada pelo comissário presidencial para os direitos humanos e liberdade de expressão, Andrés Guzman Caballero, da Colômbia, em Tecoluca, 74 km a sudeste de San Salvador, em 21 de agosto. [Marvin Recinos/AFP]
Detentos permanecem em uma cela da megaprisão do Centro de Confinamento Contra o Terrorismo (CECOT), onde são mantidas centenas de membros das gangues MS-13 e Barrio 18, durante visita humanitária organizada pelo comissário presidencial para os direitos humanos e liberdade de expressão, Andrés Guzman Caballero, da Colômbia, em Tecoluca, 74 km a sudeste de San Salvador, em 21 de agosto. [Marvin Recinos/AFP]

AFP |

TECOLUCA, El Salvador – A guerra implacável do presidente salvadorenho, Nayib Bukele, contra as gangues vem enchendo cada vez mais os pavilhões de uma enorme prisão que pode ser a maior da América Latina.

No complexo de Tecoluca, a sudeste da capital, San Salvador, dezenas de presos com cabeças raspadas espiam de um único bloco de celas.

Entre as onipresentes camisetas e shorts brancos, destacam-se algumas cabeças e pescoços cobertos de tatuagens escuras.

A AFP uniu-se a autoridades governamentais de direitos humanos no final de agosto em uma rara visita à prisão, formalmente conhecida como Centro de Confinamento do Terrorismo, cerca de seis meses após a sua inauguração, em 24 de fevereiro.

Detentos permanecem em uma cela da megaprisão do Centro de Confinamento Contra o Terrorismo (CECOT), onde são mantidas centenas de membros das gangues MS-13 e Barrio 18, durante visita humanitária organizada pelo comissário presidencial para os direitos humanos e liberdade de expressão, o colombiano Andrés Guzman Caballero, em Tecoluca, 74 km a sudeste de San Salvador, em 21 de agosto. [Marvin Recinos/AFP]
Detentos permanecem em uma cela da megaprisão do Centro de Confinamento Contra o Terrorismo (CECOT), onde são mantidas centenas de membros das gangues MS-13 e Barrio 18, durante visita humanitária organizada pelo comissário presidencial para os direitos humanos e liberdade de expressão, o colombiano Andrés Guzman Caballero, em Tecoluca, 74 km a sudeste de San Salvador, em 21 de agosto. [Marvin Recinos/AFP]
Detentos permanecem em uma cela da megaprisão do Centro de Confinamento Contra o Terrorismo (CECOT), onde são mantidas centenas de membros das gangues MS-13 e Barrio 18, durante visita humanitária organizada pelo comissário presidencial para os direitos humanos e liberdade de expressão, o colombiano Andrés Guzman Caballero, em Tecoluca, 74 km a sudeste de San Salvador, em 21 de agosto. [Marvin Recinos/AFP]
Detentos permanecem em uma cela da megaprisão do Centro de Confinamento Contra o Terrorismo (CECOT), onde são mantidas centenas de membros das gangues MS-13 e Barrio 18, durante visita humanitária organizada pelo comissário presidencial para os direitos humanos e liberdade de expressão, o colombiano Andrés Guzman Caballero, em Tecoluca, 74 km a sudeste de San Salvador, em 21 de agosto. [Marvin Recinos/AFP]
Detentos permanecem em uma cela da megaprisão do Centro de Confinamento Contra o Terrorismo (CECOT), onde são mantidas centenas de membros das gangues MS-13 e Barrio 18, durante visita humanitária organizada pelo comissário presidencial para os direitos humanos e liberdade de expressão, o colombiano Andrés Guzman Caballero, em Tecoluca, 74 km a sudeste de San Salvador, em 21 de agosto. [Marvin Recinos/AFP]
Detentos permanecem em uma cela da megaprisão do Centro de Confinamento Contra o Terrorismo (CECOT), onde são mantidas centenas de membros das gangues MS-13 e Barrio 18, durante visita humanitária organizada pelo comissário presidencial para os direitos humanos e liberdade de expressão, o colombiano Andrés Guzman Caballero, em Tecoluca, 74 km a sudeste de San Salvador, em 21 de agosto. [Marvin Recinos/AFP]

A enorme penitenciária tem capacidade para 40 mil presos, mas agora abriga 12.114 acusados de serem membros de gangues.

“Perseveramos aqui dia após dia, tentando mudar com a ajuda de nosso Deus”, disse José Hurquilla Bonilla, membro da gangue Barrio 18, de dentro de uma cela.

Organizações humanitárias questionam o tratamento dispensado aos supostos membros de gangues. As dezenas de milhares de detidos nas prisões do país incluem pelo menos 1.600 menores, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

A prisão foi construída para receber parte dos mais de 72 mil supostos membros de gangues detidos sob um estado de emergência decretado em março de 2022 pelo Congresso a pedido de Bukele, em resposta a uma escalada de violência que matou 87 pessoas em apenas três dias.

As autoridades acusam quase todos os prisioneiros de Tecoluca de pertencerem às violentas gangues rivais Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18, que tiveram origem nas ruas do sul da Califórnia há quatro décadas.

“Quando você é criança, qualquer pessoa mente para você e te adoça. Você comete um erro e, quando cresce... você percebe isso”, diz Nelson Velasquez, detento de 37 anos com “EM- 13" tatuado na cabeça.

Até 75 presos por cela

Velasquez falou durante uma visita da procuradora de direitos humanos de El Salvador, Raquel Caballero, e do comissário de direitos humanos do país, o colombiano Andres Guzman, à prisão.

Em torno de 60 a 75 detentos vivem em cada cela, com cerca de 100 metros quadrados (1.000 pés quadrados). Eles compartilham dois vasos sanitários e duas pias com água corrente, além de dois recipientes com água para beber.

Com as mãos atadas, vestido como os demais presos, de camiseta, shorts e máscara branca, Velásquez disse que já havia cumprido duas penas por crimes diversos, totalizando 15 anos, mas agora aguarda um novo julgamento.

Os pavilhões da prisão têm teto curvo para garantir ventilação natural aos presos, além de claraboias para iluminar um pátio que separa as celas.

Alguns detentos foram libertados.

“Até o momento, pouco mais de 7.000 foram libertados”, disse o ministro da Segurança, Gustavo Villatoro, na terça-feira (22 de agosto).

Para construir a prisão, o estado comprou uma área de 166 hectares.

Composto por oito pavilhões, o complexo é cercado por um muro de concreto com 2,1 km de extensão e 11 metros de altura, além de cercas elétricas.

"Comida insuficiente"

Após conversar com presos em diferentes celas, Caballero, o ombudsman de direitos humanos, disse que eles haviam reclamado de falta de comida.

“Reclamam que a comida é insuficiente” e “que estão ociosos; não fazem nada porque estão trancados”, disse Caballero à AFP.

A prisão tem refeitórios, áreas de descanso, ginásio e mesas de pingue-pongue, mas apenas para uso dos seguranças.

Há também “celas de punição” escuras e sem janelas para detentos com mau comportamento e salas para audiências virtuais para que os presos não tenham de sair da prisão.

Eles não podem receber visitas de familiares.

Durante a visita à prisão, Guzmán perguntou aos detentos sobre a sua situação nas celas. A maioria disse que água “não falta”, mas eles pediram vassouras e detergente para limpeza.

Um médico afirmou que amostras de água são coletadas diariamente e enviadas a um laboratório para análise de possível contaminação.

Os presos têm opiniões diferentes. Alguns dizem que recebem frequentemente creme dental, escovas de dente e sabonete, enquanto outros pedem medicamentos para os que sofrem de doenças terminais.

“Há muito a fazer do ponto de vista dos direitos humanos para eles, mas estamos indo bem”, disse Guzman. Ele afirmou que os prisioneiros “estão em condições dignas”.

A ONG de direitos humanos Cristosal, no primeiro aniversário do estado de emergência, denunciou 174 mortes de detentos sob custódia do Estado, que descreveu como “uma medida permanente de repressão e violações dos direitos humanos”.

A ONU pediu uma investigação sobre as mortes.

A prisão conta com uma equipe de atendimento de 50 funcionários, entre enfermeiros e médicos, disse Caballero.

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