Ambiente

Exploração ilícita de ouro pela China remodela mineração global e alimenta destruição ambiental, alerta reportagem

Crescente apetite da China por ouro está levando à mineração ilícita da Indonésia à América do Sul, alimentando a destruição ambiental, o crime organizado e as tensões geopolíticas, segundo nova investigação.

Barras de ouro e joias em exposição em um mercado em Banda Aceh, Indonésia, em 14 de abril. [Chaideer Mahyuddin/AFP]
Barras de ouro e joias em exposição em um mercado em Banda Aceh, Indonésia, em 14 de abril. [Chaideer Mahyuddin/AFP]

Por Entorno |

O enorme apetite da China por ouro — parte de uma estratégia para reduzir a dependência do dólar americano e aumentar a proteção contra sanções e a influência monetária — está alimentando um crescimento da mineração ilícita no Sul Global, de acordo com uma reportagem do jornal The Washington Post.

A investigação, baseada em imagens de satélite, dados comerciais, registros governamentais e visitas de campo, descobriu uma destruição ambiental generalizada, da Indonésia a Gana e Guiana Francesa, ligada a essas operações.

O The Post disse em sua matéria de 12 de agosto que "obteve documentos internos do governo e visitou algumas comunidades de mineração de ouro que estão sendo transformadas por operações lideradas pela China."

Segundo o texto, investidores chineses em mineração na Indonésia anunciam nas redes sociais chinesas acesso "fácil e gratuito" a depósitos de ouro. Autoridades da ONU alertam que o crime organizado agora permeia o comércio global de ouro, com cartéis, grupos terroristas e mercenários se beneficiando do preço de US$ 3.000 por onça (28g) — muitas vezes em cooperação com empresas chinesas que operam "da mina ao mercado".

Investigadores dizem que a maioria das operações ilícitas são financiadas de forma privada por cidadãos chineses que trabalham com pouca supervisão de Pequim, alertou o The Post, acrescentando que os países ricos em ouro acusam a China de permitir o roubo de recursos e ignorar pedidos de ajuda para reprimir os grupos criminosos.

Reservas de ouro obscuras

Em Gana, centenas de cidadãos chineses foram presos, mas muitos retornaram rapidamente, segundo a reportagem. Ao mesmo tempo, a Indonésia relata descobertas quase diárias de minas ilegais ligadas a operadores chineses. E analistas de defesa franceses afirmam que os investidores chineses formam uma "cadeia logística crucial" nas redes ilegais de ouro da América do Sul, de acordo com o The Post.

A China, um dos maiores compradores de ouro do mundo há mais de uma década, mantém reservas obscuras. Conforme a matéria, analistas suspeitam que o Banco Popular da China adquira muito mais do que declara. O Goldman Sachs estima que algumas compras mensais sejam subnotificadas em até 60 toneladas.

O Banco Popular da China não respondeu aos pedidos para comentar, de acordo com o The Post.

As operações ilícitas chinesas diferem da mineração artesanal local, que depende de ferramentas manuais, e da mineração industrial regulamentada. Os sindicatos trazem maquinário pesado, operam sem salvaguardas ambientais e usam cada vez mais cianeto em vez de mercúrio — aumentando a produtividade, mas agravando a contaminação, afirma a publicação.

Em 2024, as autoridades indonésias descobriram uma mina ilegal na ilha de Lombok, abrangendo o equivalente a 184 campos de futebol e produzindo cerca de US$ 5,5 milhões em ouro mensalmente, segundo a investigação.

A corrupção é um grande obstáculo à aplicação da lei. Segundo a reportagem do The Post, autoridades indonésias admitem que os processos frequentemente param e, mesmo quando cidadãos chineses são julgados, absolvições ou sentenças leves são comuns. Em um caso, uma mina ilegal de 1,6 km de extensão, que empregava 80 pessoas, resultou na anulação de condenações por má conduta judicial, segundo o jornal.

Pequim insiste publicamente que seus cidadãos no exterior sigam as leis locais, mas autoridades de países produtores de ouro afirmam que a cooperação é rara, aponta a publicação. Representantes chineses evitam discussões multilaterais sobre fluxos ilícitos, como o fórum da OCDE de 2025 em Paris, acrescenta a reportagem.

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