Economia

"Muito preocupante": desemprego de jovens é motivo de preocupação na China

Clima entre os jovens online e nas ruas de Pequim não deixa dúvidas de que a situação é grave.

Homem navega em seu celular, sentado dentro de um shopping em Pequim em 15 de agosto. [Greg Baker / AFP]
Homem navega em seu celular, sentado dentro de um shopping em Pequim em 15 de agosto. [Greg Baker / AFP]

AFP |

PEQUIM -- A China deixou de publicar dados sobre sua crescente taxa de desemprego entre jovens na terça-feira (15 de agosto), ao divulgar uma série de indicadores decepcionantes que geram preocupações sobre a situação da segunda maior economia do mundo.

Pouco antes da publicação dos últimos e pouco inspiradores resultados, o banco central reduziu a taxa de juros em um esforço para impulsionar o crescimento.

Os novos dados se somaram a uma série de números, nos últimos meses, que refletem uma desaceleração na recuperação pós-Covid da China, com o desemprego entre jovens de 16 a 24 anos atingindo um recorde de 21,3% em junho.

Mas o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS) anunciou na terça-feira que não divulgaria mais dados de desemprego específicos por faixa etária, citando a necessidade de "melhorar e otimizar ainda mais as estatísticas de pesquisas do mercado de trabalho".

Homens se reúnem em uma região de trabalho em Pequim, onde as pessoas são contratadas para empregos temporários em fábricas e canteiros de obras, em 15 de agosto de 2023. [Pedro Pardo/AFP]
Homens se reúnem em uma região de trabalho em Pequim, onde as pessoas são contratadas para empregos temporários em fábricas e canteiros de obras, em 15 de agosto de 2023. [Pedro Pardo/AFP]

"A partir de agosto, a divulgação das taxas de desemprego urbano para jovens e outras faixas etárias em todo o país será suspensa", disse o porta-voz do órgão, Fu Linghui, em entrevista coletiva.

O desemprego geral subiu para 5,3% em julho, em comparação com 5,2% em junho, disse o DNE.

A estudante universitária Li Nuojun disse à AFP em Pequim, na terça-feira, que a taxa de desemprego entre os jovens é "muito preocupante".

"Quando penso em encontrar um emprego, fico muito ansiosa", disse a jovem de 18 anos.

A suspensão da divulgação de dados de emprego para jovens "pode enfraquecer ainda mais a confiança dos investidores globais na China", disse Ting Lu, economista chinês, em nota, ao Nomura.

"Amordaçado e de olhos vendados"

Os usuários chineses de redes sociais mostraram-se céticos sobre a explicação das autoridades para a mudança, e o assunto teve mais de 140 milhões de visualizações e dezenas de milhares de comentários na plataforma Weibo.

"Você pode resolver o problema amordaçado e de olhos vendados?", perguntou um usuário baseado em Pequim, em um post curtido por mais de 3.000 pessoas.

Os líderes chineses buscaram aumentar o consumo doméstico nas últimas semanas. No mês passado, o Conselho de Estado divulgou um plano de 20 pontos para incentivar a população a gastar mais em setores como veículos, turismo e eletrodomésticos.

O alto escalão do país alertou que a economia enfrenta "novas dificuldades e desafios", além de "perigos ocultos em áreas-chave".

Os dados recentes sugerem que a China pode ter dificuldades em atingir a meta de crescimento de 5% estabelecida para o ano. A economia cresceu apenas 0,8% no segundo trimestre de 2023, segundo dados oficiais.

Mau humor

O clima entre os jovens online e nas ruas de Pequim não deixa dúvidas sobre a gravidade da situação.

"Tradução: Vamos descobrir um novo método estatístico para reduzir a taxa de desemprego", escreveu um usuário cético na plataforma social Weibo, sobre a decisão do NBS de não divulgar mais números de desemprego específicos por faixa etária.

"Na verdade, nem imagino (qual) seria a taxa de desemprego. (O NBS) não consegue nem inventar uma", escreveu outro usuário da plataforma.

"Não divulgo (os números) = não há desemprego", escreveu um usuário identificado na cidade de Chongqing, no sudoeste chinês.

Uma hashtag relacionada ao anúncio da suspensão teve 190 milhões de visualizações na plataforma Weibo na tarde de terça-feira.

Nas ruas da capital, na terça-feira, a estudante universitária Li Nuojun disse à AFP que considerava suas perspectivas de trabalho desanimadoras.

"Minha especialização na universidade é em design ambiental, mas, com o surgimento da IA, não tenho muita esperança na indústria de design", disse a jovem de 18 anos.

Segundo ela, todos os seus amigos acreditam que estarão desempregados após a formatura, embora ainda tenham alguns anos de estudo à frente.

"Estou muito preocupada", disse ela. "Quando penso em encontrar um emprego, fico muito ansiosa, não quero pensar nisso por enquanto."

"Os jovens enfrentam uma pressão maior para encontrar emprego. Assim como meu primo e seus colegas de turma, eles preferem continuar estudando depois da faculdade", disse Guo, 35 anos, profissional de TI.

"Eles estão se preparando para seleções de pós-graduação e muitos deles vão prestar concursos públicos."

Mesmo para quem tem emprego, as perspectivas econômicas são desfavoráveis.

Uma mulher de 29 anos identificada como Xue disse ter amigos que estavam lutando para mudar de emprego.

"Alguns continuaram enviando currículos por um mês e tiveram várias oportunidades de entrevistas, mas os resultados não são tão bons", disse ela.

"O salário que (os empregadores) oferecem é mediano e haverá muitas horas extras. O mercado de trabalho é sempre uma corrida de ratos."

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