Economia

Práticas comerciais desleais da China prejudicam a indústria de calçados da América Latina

A China tem inundado os mercados latino-americanos com sapatos baratos que levaram à perda de empregos e ao fechamento de fábricas. Esses produtos também são frequentemente de má qualidade e não cumprem os requisitos ambientais.

Comerciante chinês vende sapatos americanos falsificados em Xangai, enquanto a indústria calçadista latino-americana acusa a China de despejar produtos baratos na região e praticar concorrência desleal. [Chandan Khanna/AFP]
Comerciante chinês vende sapatos americanos falsificados em Xangai, enquanto a indústria calçadista latino-americana acusa a China de despejar produtos baratos na região e praticar concorrência desleal. [Chandan Khanna/AFP]

Por Giselle Alzate |

BOGOTÁ - A indústria calçadista latino-americana acusa a China de "dumping" ao oferecer calçados baratos na região e de criar concorrência desleal.

Dumping é a prática de vender algo no exterior a preços extremamente baixos para prejudicar os concorrentes no país importador.

Em uma reportagem publicada no final de julho, a Revista del Calzado conclamou o setor calçadista latino-americano a se unir diante dos baixos preços dos produtos subsidiados por Pequim e sua concorrência desleal.

Lideranças da indústria latino-americana de calçados se reuniram em Cúcuta, na Colômbia, de 22 a 23 de junho, para participar do 25º Fórum Latino-Americano de Calçados.

Luis Beron, sapateiro especializado em sapatos para a prática de tango, trabalha em sua oficina em Buenos Aires, Argentina. A indústria calçadista latino-americana acusa a China de despejar calçados baratos na região e criar concorrência desleal. [Luis Robayo/AFP]
Luis Beron, sapateiro especializado em sapatos para a prática de tango, trabalha em sua oficina em Buenos Aires, Argentina. A indústria calçadista latino-americana acusa a China de despejar calçados baratos na região e criar concorrência desleal. [Luis Robayo/AFP]

A América Latina produziu mais de 1,5 bilhão de pares de calçados em 2022, representando aproximadamente 7% da produção global. Isso torna a região o quinto maior produtor de calçados do mundo, atrás de China, Índia, Vietnã e Indonésia.

Mas a indústria tem enfrentado dificuldades devido à concorrência desleal da China.

O diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, Haroldo Ferreira, diz que o setor calçadista da América Latina precisa se unir para enfrentar a concorrência desleal chinesa.

"Dumping" reduz a qualidade dos calçados

A China exporta calçados com preços abaixo do custo de produção por conta dos subsídios gigantescos que Pequim concede a seus produtores, afirma ele.

“Apenas Brasil, Argentina e Peru têm mecanismos de defesa antidumping contra calçados importados da China, embora seja um problema comum nos países produtores de calçados da América Latina”, disse Ferreira à Revista del Calzado.

Ele também comentou que as medidas antidumping adotadas por esses países visam proteger sua produção de calçados do contrabando e da concorrência desleal.

Alguns fabricantes da América Latina nem sempre contam com o apoio de seus governos para lidar com a chegada de calçados chineses baratos, disse ele.

Mauricio Battaglia, presidente da Câmara da Indústria de Calçados do Estado de Guanajuato (Ciceg) e da Câmara Nacional da Indústria de Calçados do México (Canaical), disse que o principal problema enfrentado pelo setor em seu país é a "concorrência desleal" de sapatos importados.

Calçados baratos da China estão inundando o mercado mexicano, prejudicando a competitividade dos produtores domésticos, disse ele.

Em 2010, a indústria mexicana de calçados contribuiu com 0,7% do PIB do país.

No entanto, essa participação hoje caiu para 0,4%. Battaglia atribui o declínio à "concorrência desleal de calçados importados, que muitas vezes são vendidos a preços abaixo do custo de produção".

A medida argentina contra o dumping de "calçados importados da China" ajudou a manter forte a indústria calçadista argentina, disse Horacio Moschetto, secretário executivo da Câmara da Indústria do Calçado (CIC) da Argentina.

"Lutamos contra a concorrência chinesa desleal desde 2010 e temos tido sucesso", disse.

A concorrência desleal da China é um grande obstáculo para o crescimento das economias latino-americanas, afirmou Daniel Risafi, coordenador da Associação das Câmaras de Calçados da América Latina (Accal) e presidente da CIC argentina.

"O tema foi amplamente discutido durante o Fórum Latino-Americano de Calçados. Não é só a indústria local que corre risco quando os calçados muito baratos entram no mercado, mas também os próprios consumidores, pois muitas vezes (os produtos) são de má qualidade e [prejudicam] o meio ambiente”, disse ele

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