Economia

Acordo portuário Argentina-China gera dúvidas enquanto o plano de radar dos EUA na Terra do Fogo é interrompido

Cresce a preocupação, na Argentina, de que a China esteja assumindo a infraestrutura estratégica do país.

A construção do radar da LeoLabs na Terra do Fogo, Argentina, é vital para a segurança do tráfego espacial no Hemisfério Sul. O radar é equipado com tecnologia de banda S, que permite rastrear objetos em órbita terrestre baixa com uma precisão sem precedentes. Isso é especialmente importante no Hemisfério Sul, que carece de infraestrutura de segurança para o tráfego espacial. O radar ajudará a preencher essa lacuna e melhorar a segurança das operações espaciais na região. [LeoLabs]
A construção do radar da LeoLabs na Terra do Fogo, Argentina, é vital para a segurança do tráfego espacial no Hemisfério Sul. O radar é equipado com tecnologia de banda S, que permite rastrear objetos em órbita terrestre baixa com uma precisão sem precedentes. Isso é especialmente importante no Hemisfério Sul, que carece de infraestrutura de segurança para o tráfego espacial. O radar ajudará a preencher essa lacuna e melhorar a segurança das operações espaciais na região. [LeoLabs]

Por Diego López Beltrán |

BUENOS AIRES -– Em um movimento que gerou preocupações, a Argentina interrompeu a construção de um radar americano na Terra do Fogo, ao mesmo tempo em que assinou um memorando de entendimento com uma empresa chinesa para avançar em um projeto de porto multiuso na província.

O subsecretário de comunicações do governo argentino suspendeu, em meados de junho, uma licença concedida em novembro passado à empresa aeroespacial norte-americana LeoLabs para a construção de uma estação de mapeamento da órbita terrestre na região da cidade de Tolhuin.

A interrupção teria sido motivada por preocupações com relação à participação de investidores britânicos na empresa, segundo o jornal Página/12 e o portal La Política Online (LPO).

A LeoLabs fornece serviços de monitoramento por satélite para empresas aeroespaciais, ajudando-as a evitar colisões ao rastrear detritos espaciais e identificar trajetórias de objetos na órbita da Terra.

A foto mostra o Porto de Ushuaia, na província da Terra do Fogo, Argentina. O governo da província e a empresa chinesa Grupo Industrial Shaanxi Chemical assinaram um memorando de entendimento para a construção de um complexo petroquímico multiuso. O complexo incluiria um terminal portuário na cidade de Río Grande. [Alexis Delelisi/AFP]
A foto mostra o Porto de Ushuaia, na província da Terra do Fogo, Argentina. O governo da província e a empresa chinesa Grupo Industrial Shaanxi Chemical assinaram um memorando de entendimento para a construção de um complexo petroquímico multiuso. O complexo incluiria um terminal portuário na cidade de Río Grande. [Alexis Delelisi/AFP]

Em março, o embaixador dos Estados Unidos na Argentina, Mark Stanley, aplaudiu no Twittera decisão da LeoLabs de instalar a primeira estação de mapeamento orbital na América do Sul, expressando esperança de que a empresa possa "colaborar" com outras entidades para "proteger contra detritos espaciais".

No entanto, o governo argentino voltou atrás em junho, após surgirem preocupações de que as informações coletadas pelo radar pudessem ser usadas para fins militares.

As obras já estavam 50% concluídas quando Buenos Aires as interrompeu.

2 impedimentos

Dois fatores-chave teriam influenciado a suspensão argentina.

Primeiro, de acordo com um relatório da Inspetoria Geral de Justiça da Terra do Fogo, a LeoLabs tem capital britânico.

A Argentina ainda vive uma relação tensa com o Reino Unido 41 anos após a disputa pelas Ilhas Malvinas.

Em segundo lugar, a estação de radar estaria situada a apenas 500 km dessas ilhas, ainda em poder dos britânicos.

No entanto, enquanto Buenos Aires suspendeu a instalação do radar norte-americano, o governo provincial da Terra do Fogo avançou com outro projeto de importância geopolítica.

Em 5 de junho, o governo provincial pediu ao seu legislativo a ratificação de um acordo assinado em 31 de maio com a empresa chinesa Grupo Industrial Shaanxi Chemical para a construção de um complexo petroquímico multiuso. A obra incluiria um terminal portuário na cidade de Río Grande.

O acordo com a empresa chinesa prevê um investimento estimado em US$ 1,25 bilhão. O complexo petroquímico multiuso produziria 600 mil toneladas de amônia sintética, 900 mil toneladas de ureia e 100 mil toneladas de glifosato, informou a Bloomberg Línea.

Além do complexo, o acordo prevê a construção de um porto para navios de até 20 mil toneladas e uma usina de 100 megawatts.

A legislatura provincial ainda não agiu.

Controle chinês da infraestrutura estratégica

O governador da Terra do Fogo, Gustavo Melella, afirmou em entrevista à Bloomberg Línea que o acordo com a empresa chinesa é apenas uma "carta de entendimento".

Isso significa que o acordo ainda não está finalizado e requer licenças nacionais e a aprovação do Ministério das Relações Exteriores argentino para ser implementado.

Em um relatório ao Congresso em maio, o Ministério dos Transportes negou conhecimento de uma iniciativa formal para construção de um terminal portuário na Terra do Fogo. O relatório afirma que o ministério não recebeu nenhum pedido de aprovação desse projeto.

O deputado da oposição Federico Frigerio questionou a proposta, afirmando que ela "promove o controle de uma empresa estatal chinesa sobre nossa infraestrutura estratégica".

Como "o porto é de natureza estratégica", os investidores devem ser todos empresas argentinas, sejam elas privadas, públicas ou mistas, tuitou em 8 de junho.

No entanto, é improvável que a China construa um porto na Terra do Fogo, disse Agustín Rossi, chefe de gabinete do presidente Alberto Fernández, ao Congresso na metade de junho.

“O único porto atualmente autorizado a ser construído na província é um porto polivalente da empresa argentina Mirgor”, disse ele. O porto autorizado está situado na mesma área que os chineses planejavam usar.

A construção, pela Mirgor e sua parceira Newsan, ambas fabricantes argentinas de eletrodomésticos, já está em andamento.

Se os chineses decidissem construir um porto na Terra do Fogo, teriam de encontrar outro local.

O projeto do porto Mirgor-Newsan, de US$ 380 milhões, recebeu aprovação para estudos ambientais e deve começar a operar dentro de três anos, de acordo com a Bloomberg Línea.

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