Diplomacia
Viagem financiada pela Huawei levanta preocupações sobre influência na agenda do Congresso Peruano
Huawei, aparentemente focada apenas em produção de telefones celulares e bens de consumo, é na verdade fortemente apoiada pelo governo chinês e tem ligações profundas com o Exército de Libertação Popular.
![Visitantes caminham perto de estande da fabricante chinesa Huawei no Congresso Mundial de Tecnologia Móvel, o maior encontro anual da indústria de telecomunicações, em Barcelona, Espanha, em 28 de fevereiro. [Pau Barrena/AFP]](/gc4/images/2023/07/31/43231-huawei_peru2-600_384.webp)
Por Waldaniel Amadis |
LIMA -- A viagem de dois parlamentares peruanos para a Espanha, a convite da empresa chinesa Huawei com todas as despesas pagas, levantou preocupações no Congresso após a revelação de que um deles promoveu projetos de leis que beneficiariam a empresa sediada em Shenzhen.
Os parlamentares peruanos Patricia Chirinos (Avanza País) e Luis Aragón (Ação Popular) viajaram para Barcelona no final de fevereiro para participar do Congresso Mundial de Tecnologia Móvel (MWC). Segundo o parlamento peruano, todas as despesas foram pagas pela empresa chinesa de telecomunicações Huawei, já que não foram utilizados recursos da instituição.
O site de notícias Infobae revelou que, de acordo com o registro de visitas ao Congresso peruano, os representantes da Huawei Liu Jiaxin, Liu Zhilong e Fiorella Esquives foram recebidos por Aragón no início daquele mês.
Após seu retorno da Espanha, Aragón promoveu três projetos de lei que preveem incentivos financeiros para a indústria de carros elétricos e facilitariam a entrada de empresas internacionais.
![O parlamentar Luis Aragón (Ação Popular) viajou para Barcelona no final de fevereiro para participar do Congresso Mundial de Tecnologia Móvel. Ele é acusado de promover três projetos de lei que preveem incentivos financeiros para a Huawei, que pagou por sua viagem. [Congresso Peruano]](/gc4/images/2023/07/31/43232-huawei_peru1-600_384.webp)
"Infração grave"
A pressão sobre os dois parlamentares aumentou em 25 de julho com críticas ferrenhas da ex-presidente do Organismo Supervisor de Contratos do Estado (OSCE), Mónica Yaya.
Em uma entrevista ao canal Rede de Comunicação Regional (RCR), Yaya disse que o Congresso "não transmite confiança aos peruanos".
Para ela, que foi responsável por supervisionar os gastos públicos, a aceitação, pelos dois membros, da viagem paga pela Huawei feriu gravemente a ética. Yaya os acusou de terem recebido "dádivas" (presentes ou subornos) da empresa de telecomunicações chinesa.
O Código de Ética Interno do Congresso proíbe receber quaisquer tipos de presentes ou benefícios, mesmos se oferecidos como um convite.
Os parlamentares cometeram uma "infração grave" do Código de Ética, disse Yaya. Ela questionou a "morosidade" do Ministério Público e dos órgãos de fiscalização ao investigarem os dois políticos.
Em abril, a Huawei anunciou uma parceria com as montadoras Chery Automobile, BAIC Motor e Anhui Jianghuai Automobile Group para a produção de veículos elétricos, segundo a Reuters.
Os Estados Unidos e vários países europeus proibiram a Huawei de fornecer equipamentos a órgãos governamentais e desestimulam fortemente seu uso no setor privado, por preocupações de que as empresas teriam de compartilhar inteligência com o governo chinês.
A Huawei, aparentemente focada apenas em produção de telefones celulares e bens de consumo, é, na verdade, fortemente apoiada pelo governo chinês e tem ligações profundas com o Exército de Libertação Popular.