Diplomacia

Desaparecido por um mês: onde está Qin Gang, ministro das Relações Exteriores da China?

Xi Jinping liderou uma campanha anticorrupção, focada principalmente em eliminar a oposição política e potenciais rivais dentro do partido.

O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, segura uma cópia da constituição da China durante coletiva de imprensa no Centro de Mídia do Congresso Nacional do Povo (NPC), em Pequim, em 7 de março. [Noel Celis / AFP]
O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, segura uma cópia da constituição da China durante coletiva de imprensa no Centro de Mídia do Congresso Nacional do Povo (NPC), em Pequim, em 7 de março. [Noel Celis / AFP]

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PEQUIM - O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, não é visto em público há quase um mês, o que gerou uma enxurrada de perguntas sobre seu paradeiro.

Confira o que sabemos até agora sobre o desaparecimento de um dos diplomatas mais importantes da China:

Quem é Qin Gang?

Considerado um confidente do presidente Xi Jinping, Qin foi nomeado ministro das Relações Exteriores em dezembro de 2022.

Atualmente com 57 anos, ele passou vários anos na embaixada chinesa em Londres e é fluente em inglês.

Qin ganhou a reputação de "Wolf Warrior" (lobo guerreiro), um apelido dado a uma nova geração de diplomatas chineses que reage com uma retórica muitas vezes agressiva às críticas ocidentais a Pequim.

Qin disse, em 2020, que a imagem da China no Ocidente havia se deteriorado porque europeus e americanos -- a imprensa, em particular -- nunca aceitaram o sistema político chinês ou sua ascensão econômica.

Enquanto atuou como embaixador em Washington, nos Estados Unidos, Qin aumentou sua visibilidade por meio de aparições públicas e na imprensa, nas quais explicou a posição chinesa.

Ele manteve uma agenda lotada após sua nomeação como ministro, tendo visitado a África, a Europa e a Ásia Central, além de receber representantes estrangeiros em Pequim.

O que sabemos sobre o paradeiro dele?

Qin não é visto em público desde 25 de junho, quando se encontrou com o vice-chanceler da Rússia, Andrey Rudenko, em Pequim.

Mas foi sua ausência em uma cúpula de alto nível da ASEAN na Indonésia, duas semanas depois, que alimentou suspeitas.

O Ministério das Relações Exteriores da China disse que Qin não participou da cúpula por "motivos de saúde".

Mas essa justificativa não foi capaz de conter uma onda de especulações on-line.

"Todo mundo está preocupado com algo, mas não pode discutir publicamente", disse Hu Xijin, destacado comentarista do tabloide estatal Global Times, em um post no Weibo.

"É preciso encontrar um equilíbrio entre manter a situação e respeitar o direito do público de saber", disse ele.

Desde então, o Ministério das Relações Exteriores evita perguntas sobre a ausência de Qin.

Quem está representando a China no lugar dele?

A ausência de Qin deixou um vácuo no alto escalão do Ministério das Relações Exteriores da China.

Uma visita do líder de política externa da União Europeia, Josep Borrell, a Pequim foi cancelada abruptamente neste mês.

E a Bloomberg informou, na sexta-feira, que uma visita do secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly, havia sido adiada devido à ausência de Qin.

O principal representante da política externa, Wang Yi - que está acima de Qin na hierarquia política chinesa -, assumiu algumas de suas responsabilidades nesse período, viajando para a África nesta semana para participar de uma reunião do BRICS sobre assuntos de segurança em Joanesburgo.

Pequim insistiu na segunda-feira que "as atividades diplomáticas da China estão avançando firmemente".

Questionada sobre a ausência de Qin há quase um mês, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, disse aos jornalistas: "Não tenho informações a oferecer".

Mas, à medida que o Ministério das Relações Exteriores completa um mês sem um chefe visível, começam a surgir dúvidas sobre a normalidade da situação.

"Quando o chefe desaparece pelo estado, todos na organização congelam", tuitou Desmond Shum, ex-empresário e "insider" político chinês, autor de "Red Roulette" (Roleta Vermelha).

"Quem vai assinar na linha pontilhada do ministro?"

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