Economia

Cidade-fantasma chinesa de mansões é reivindicada por fazendeiros

Setor imobiliário chinês cresceu muito rápido desde o final dos anos 90, mas foi prejudicado pelo próprio excesso e pela corrupção oficial.

Foto área mostra vilas vazias em um subúrbio de Shenyang, na província de Liaoning, no nordeste do país. Animais vagam entre o concreto armado de mansões semiacabadas no nordeste da China, sendo alguns dos únicos ocupantes do complexo de luxo, cujas varandas em ruínas e arcos cobertos de vegetação são um símbolo desolador de um mercado imobiliário prejudicado pelo seu próprio excesso. [Jade Gao / AFP]
Foto área mostra vilas vazias em um subúrbio de Shenyang, na província de Liaoning, no nordeste do país. Animais vagam entre o concreto armado de mansões semiacabadas no nordeste da China, sendo alguns dos únicos ocupantes do complexo de luxo, cujas varandas em ruínas e arcos cobertos de vegetação são um símbolo desolador de um mercado imobiliário prejudicado pelo seu próprio excesso. [Jade Gao / AFP]

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SHENYANG, CHINA - O gado vaga entre o concreto armado de mansões semiacabadas no nordeste da China, sendo um dos únicos ocupantes do complexo de luxo, cujas varandas em ruínas e arcos cobertos de vegetação são um símbolo desolador de um mercado imobiliário prejudicado pelo seu próprio excesso.

A gigante do mercado imobiliário Greenland Group foi a pioneira em construções localizadas nas colinas de Shenyang, cidade industrial de 9 milhões de habitantes, em 2010 -- quando o crescimento-relâmpago do setor estava a pleno vapor.

Mas, cerca de dois anos depois, o projeto State Guest Mansions -- luxuosamente planejado como 260 vilas em estilo europeu, com instalações elegantes para os visitantes do governo provincial -- foi abandonado.

Agora, os fazendeiros locais aram a terra antes vislumbrada como jardins bem-cuidados para os abastados com conexões políticas, enquanto cães selvagens patrulham galinheiros construídos grosseiramente e garagens abarrotadas de fardos de feno e máquinas agrícolas.

Gado vaga entre o concreto armado de mansões semiacabadas no nordeste da China. [Jade Gao / AFP]
Gado vaga entre o concreto armado de mansões semiacabadas no nordeste da China. [Jade Gao / AFP]
Esta foto mostra o interior de uma construção vazia em um subúrbio de Shenyang, na província de Liaoning, no nordeste da China. [Jade Gao / AFP]
Esta foto mostra o interior de uma construção vazia em um subúrbio de Shenyang, na província de Liaoning, no nordeste da China. [Jade Gao / AFP]

O motivo que levou o projeto à falência ainda não está claro, embora os locais tenham suas suspeitas.

"Francamente, foi por causa da corrupção oficial", disse o fazendeiro Guo à AFP, enquanto escavava ervas comestíveis sob uma cerca de metal de 10 metros de altura em uma estrada próxima.

"Eles cortaram o financiamento e reprimiram as construções não controladas, então foi deixado semiacabado", disse o moreno de 45 anos, enquanto outras pessoas carregavam baldes de água do lago artificial do complexo.

Uma pessoa que atendia o telefone em um escritório regional do Greenland Group disse que enviaria a um superior a solicitação para um comentário, mas a empresa não fez mais contato com a AFP.

Desde sua ascensão ao poder, em 2012, o presidente chinês, Xi Jinping, trava uma grande repressão à corrupção no Partido Comunista, que governa o país, e fomenta uma aversão social à riqueza ostensiva.

"Essas (casas) seriam vendidas por milhões, mas os ricos não compraram nenhuma", disse Guo.

"Elas não foram construídas para pessoas comuns."

"Ótimo para exploração"

O grande setor imobiliário chinês continuou a crescer até o fim da década.

Mas o governo lançou uma ofensiva contra os empréstimos excessivos e a especulação desenfreada em 2020, deixando vários construtores em luta contra dívidas massivas e a demanda fraca.

Como consequência, cidades-fantasmas como a de Shenyang -- conhecidas como casas de "caudas podres", em chinês -- agora marcam a paisagem urbana pelo país.

Dados do governo central não estão publicamente disponíveis, mas o relatório de um grupo de pesquisa afiliado a uma associação oficial em Xangai afirma que apenas 4% dos projetos habitacionais no país haviam sido deixados semiacabados em junho de 2022.

Isso equivalente a 231 milhões de metros quadrados (cerca de 2,5 bilhões de pés quadrados) de imóveis.

No antigo centro de vendas do State Guest Mansions, o grafite nas paredes descamadas sugere que os fazendeiros não são os únicos visitantes.

O interesse nas cidades-fantasmas aumenta à medida que exploradores urbanos corajosos visitam os distritos abandonados e postam suas descobertas online.

"Este lugar é ótimo para se explorar, então eu gosto de dar uma volta por aqui... e fazer alguns vídeos", disse o operador de um drone preto, enquanto descansava no chão de mármore sob um grande lustre manchado.

Ao seu redor, alcovas sombrias abrigavam pilhas desordenadas de móveis empoeirados ao estilo do Palácio de Versalhes francês.

"Tudo aqui foi abandonado", disse o homem, que não quis se identificar.

"É bem sinistro."

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